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segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Relato: Run to the hills - O início

Como disse no meu post de apresentação, em janeiro de 2013 estive na França e acabei me inscrevendo numa prova de trail run de 11km (Trail de Pécharmant), sem saber onde estava me metendo.

A prova seria num Château em Creysse, distante 120km de Bordeaux, onde eu estava hospedado. Como não havia transporte público para Creysse, resolvi entrar em contato com a organização do evento para obter orientações.
Claro que, pensando nas organizações provas de rua do Brasil, minha expectativa em ser respondido era próxima de zero. Qual não foi minha surpresa ao receber um email do organizador no dia seguinte, dizendo que não havia transporte público até o local do evento, mas que, se eu quisesse, eu poderia tomar o trem até a cidade vizinha (Bergerac) e ele mandaria alguém me buscar na estação de trem antes da prova! Ele ainda me passou o celular dele e trocamos alguns telefonemas para acertar todos os detalhes.




No dia da prova, 8h da manhã, ainda escuro, garoa fina e aproximadamente 5ºC (sensação térmica negativa), um carro me buscou na estação de trem e me levou até o local do evento. Lá chegando, o organizador veio pessoalmente me cumprimentar, trocamos algumas frases (o máximo que meu francês elementar permitia), expressei a ele o meu receio (primeira prova de trail e primeira vez que correria naquelas condições meteorológicas) e fui apresentado para algumas outras pessoas que lá estavam.

Poucos minutos depois, ouço o locutor do evento anunciando a presença de "Gabriel je ne sais quoi (meu sobrenome é difícil mesmo), que veio do Brasil para correr essa prova conosco". Fiquei com vergonha, mas achei a atitude legal.

Dada a largada (com um 'tiro de largada' de verdade! rs), saímos amassando a lama no ritmo que era possível.






O percurso era demarcado com uns pequenos pedaços de fita zebrada amarrados aos galhos das árvores de tantos em tantos metros. Logo no início do trajeto entramos num longo single track, em zigzag pela floresta. 



Abandonamos a floresta, atravessamos uma rodovia (que não havia sido bloqueada para o evento) e entramos numa estrada de terra.
No caminho passamos por alguns caçadores com seus cães e espingardas e entramos novamente numa trilha estreita.





Eu tentava ao máximo me manter junto de um grupo de corredores mesmo acreditando que aquele ritmo era mais forte do que o que eu poderia aguentar... a verdade é que eu estava morrendo de medo de me perder no meio de uma floresta francesa, sem meios de contatar ninguém! rsrs 






Bom, a prova foi totalmente diferente de qualquer coisa que eu tinha feito até então. Apaixonei-me perdidamente por correr em trilhas, na lama, no meio da floresta. Ao cruzar a linha de chegada, fui reconhecido por algumas pessoas, que aplaudiram enquanto diziam "C'est le brésilien, bravo!!!"


Running with the pack



Mal consegui recuperar a respiração e o locutor veio me entrevistar!! Até hoje não sei se o que respondi fez algum sentido, já que eu estava ofegante, cansado e confuso com o idioma (rs), mas, basicamente, o locutor disse "E aí, Gabriel, o que achou da prova? Você que estava com receio, que nunca havia corrido trail, e menos ainda no frio?!" Balbuciei algumas coisas, disse que achei a experiência maravilhosa e ele perguntou "Então você gostou mesmo? Promete que volta no ano que vem, com mais um avião cheio de brasileiros simpáticos e bla bla bla..."


Feliz, feliz


Terminada a prova, haveria um almoço com todos os corredores e, então, a cerimônia de premiação. Nova surpresa: durante a premiação, o organizador do evento (Thierry) me chamou ao "palco" e me presenteou com uma caixa contendo 3 garrafas de vinho daquele Château (o mesmo prêmio dado aos vencedores da prova). 

Pense numa pessoa encabulada! Moi!

Eles ainda me emprestaram uma toalha para que eu pudesse tomar banho e trocar minhas roupas sujas de lama até os ombros! rs
Foram tantos os gestos e demonstrações de simpatia (que eu logo associei ao pequeno universo do trail run, mais intimista que nas provas de corrida de rua, com milhares e milhares de inscritos), que eu nem tenho palavras pra expressar minha gratidão.
Só sei que, após essa experiência, eu fui definitivamente fisgado pelas provas off road.

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