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segunda-feira, 27 de abril de 2015

Relato: KTR 16km - The Good, The Bad and The Ugly



Em 2014, quando surgiu a KTR - Kailash Trail Run - em Passa Quatro/MG, vimos as fotos e os vídeos publicados e ficamos encantados. Uma prova em alta montanha (para os padrões brasucas), tendo como cenário a belíssima Serra Fina, tinha tudo para dar certo.

No entanto, os relatos que lemos e as conversas que tivemos com quem enfrentou o desafio de correr a KTR em 2014 fizeram com que decidíssemos não corrê-la em 2015, pois quando as inscrições começaram nós ainda estávamos no estaleiro em trabalho de recuperação de lesões.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Relato: 2º Desafio 28 Praias - Ubatuba

Aloha!

Cá estamos novamente!

Após o estrondoso sucesso da primeira edição do Desafio 28 Praias, em julho de 2014, decidimos reunir o Aloha Run mais uma vez para fazer frente ao desafio em 2015.

No ano anterior, como vocês sabem, fomos mal treinados e uniformizados de havaianos e fechamos a prova em 4h32, no quarto lugar entre os trios masculinos.

Esse ano fizemos alguns ajustes na estratégia com o objetivo de papar um lugar no pódio. Claro que a fanfarronice e a diversão continuariam sendo parte essencial da equipe, mas além disso resolvemos inverter a ordem dos corredores, adequando cada trecho ao corredor que melhor se adaptava ao terreno.

Desse modo, o Gustavo passou o primeiro trecho (>12km com 650mD+) para mim e eu passei os trechos 2 e 3 (+/-11km com 150m D+) para ele. O Will manteve os trechos 4 e 5 e tinha a missão de tentar melhorar sua já excelente performance do ano anterior. Eu acreditava que, se estivesse inspirado, conseguiria baixar o tempo do Gustavo em uns 6 ou 7 minutos e tinha a certeza de que o Gustavo iria conseguir limar pelo menos uns 10 minutos do meu tempo do ano passado.

E assim, no sábado de manhã, colocamos nosso novo uniforme, posamos para algumas fotos e nos dirigimos aos nossos pontos de largada.


Bigode: o sinal máximo do comprometimento com a equipe
Impossível negar que eu estava bastante nervoso. Afinal, a responsabilidade era grande! Eu havia decorado as parciais do Gustavo no ano anterior e sabia mais ou menos quanto tempo eu deveria fazer nos km 5, 7 e 10 para baixar o tempo dele. Só não sabia quanta força teria de fazer para conseguir essa proeza.

Para não "poluir" o uniforme, resolvi que não levaria mochila de hidratação. Ao invés disso coloquei duas garrafas flexíveis da Ultimate Direction nos bolsos da bermuda de compressão e torci para que os 400ml de cada garrafa bastassem para concluir o percurso.

Diferentemente do que costumo fazer, resolvi que largaria lá na frente, para não perder tempo ultrapassando os corredores mais lentos nos quilômetros iniciais.

Às 7h15 soou a buzina e sebo nas canelas! Tentei acompanhar o pelotão de frente, mas depois de uns 300m vi que o que estava fazendo seria um tiro no pé. Estava muito rápido para o meu gosto e corria o risco de quebrar antes de completar 1km e estragar os planos da equipe.

FÓÓÓÓÓÓNNNNN - tentando acompanhar o pelotão de frente na largada
Mesmo tendo tirado um pouco o pé do acelerador antes de completar 500m o estrago já estava feito. Assim que surgiu a primeira subida, em estrada de terra, fui forçado a dar uns 5 ou 6 passos andando para recuperar o fôlego. E eu já havia treinado nessa estrada antes e sabia que era possível percorrê-la inteira sem parar para andar... "paciência, Gabriel, aos poucos você recupera isso", eu dizia para mim mesmo.

Os primeiros 3 ou 4km alternam subidas e descidas em estrada de terra e são bastante corríveis. Minha estratégia era fazer esses quilômetros de forma bem forte e tentar alcançar os "retardatários" das duplas e solos que haviam largado às 7h antes que eles entrassem na trilha.

O percurso conta com 3 ou 4km de estrada de terra e o restante é de puro single track (com uns 200m de praia de areia fofa), isto é, uma vez dentro da trilha não haveria muitas oportunidades de ultrapassagem.

Tá aí a Altimetria do trecho 1

Infelizmente, só consegui alcançar os corredores mais lentos das duplas e solos depois de entrar na trilha. Felizmente, a maioria deles foi bem gentil e abria passagem sempre que eu pedia.

Para os que estavam muito concentrados em seus fones de ouvido ou cansados demais para interpretar meus pedidos de licença eu simplesmente lançava um "PELA DIREITA/ESQUERDA" e enfiava o corpo entre o barranco e o corredor. Sem maiores estresses. rs

Considerando que estávamos contornando a costa, o single track era sempre entre um barranco para baixo (direita) e um barranco para cima (esquerda), então eu tinha que aumentar a velocidade para sair da trilha, subir o barranco e fazer a ultrapassagem "andando pela parede" (quase um parkour rs), mas sem comprometer a segurança dos outros corredores e a minha.

Consegui ultrapassar bastante gente nas subidas (eu estava bastante "inspirado"... mesmo nos trechos mais inclinados eu fazia questão de andar o mais rapidamente possível, deixando para recuperar o fôlego somente quando ficava preso atrás de alguém na trilha) e, surpreendentemente, consegui ultrapassar ainda mais gente nas descidas!

Eu me considero bastante pato nas descidas, mas ainda assim tentei segurar o corpo o menos possível e deixar a gravidade fazer o resto. Total desapego aos dentes! kkkk

Mesmo nas travessias de riachos com pedras (4 ou 5 travessias dessas pelo percurso) eu dava um jeito de ultrapassar os corredores mais cautelosos. Ou eu saía correndo pelo meio do curso d'água sem considerar o risco de torcer o pé/escorregar/cair, ou então eu pegava embalo e simplesmente saltava sobre o riacho (e voava por cima de um ou dois corredores no meio do caminho, me sentindo o próprio "Cavalo de Fogo"! rsrs).

Ok...um cavalo roxo, com crina ruiva, voando numa nuvem de purpurina não é um símbolo muito condizente com meu bigode
Quando atingi a marca de 5km vi que estava 4min mais rápido que o tempo do Gustavo. No km 7 estava quase 10min mais rápido. Fiquei um pouco preocupado de gastar energia demais no começo da prova e ter de me arrastar nos quilômetros finais, mas o "modo competição" estava ativado e eu não estava disposto a relaxar o passo.  Como disse o Gustavo, quem usa bigode é obrigado a sustentar a pose! rs

Lá pelo nono quilômetro comecei a ficar preocupado... minha água estava quase no fim. Ainda faltavam 3km e algumas subidas (inclusive uma bem violenta) e comecei a racionar a água. "Bebia" só uma gotinha por vez.

Ao longo do trajeto bastante gente mexia comigo - era "mexicano" daqui, "mariachi" de lá - e isso me motivava ainda mais! Teve até um caso que achei engraçado que foi um rapaz que me passava nas subidas e eu o passava de volta nas descidas... lá pela 4ª ou 5ª vez que ele passou por mim ele disse "Ôh, Chapéuzinho, quantos chapéuzinhos têm aqui na trilha? Eu te passo toda hora e daqui a pouco você aparece na minha frente outra vez!" rsrs

Continuei forçando o ritmo e lá pelas tantas deu pra ver a praia de Caçandoca e o PC 2 lá embaixo. Era só completar mais essas centenas de metros finais e passar a bola adiante. A organização havia colocado uma corda para auxiliar na descida do morro para a praia mas, ao invés de a utilizar, inclinei o corpo para a frente e dei umas passadas largas e um salto para chegar logo na areia e dar um sprint final.

Com o coração na boca passei o chip pro Gustavo, que fez questão de me dar um abraço antes de sair correndo, e só então pausei o Garmin: 1h31!
Nos meus sonhos mais loucos e ousados eu imaginava que faria o trecho em 1h44-1h46! O Gustavo havia feito em 1h52 em 2014!

A minha parte estava entregue! Dali para a frente caberia aos demais Mariachis do Aloha Run carregar a tocha com empenho até o pórtico de chegada.

Mantivemos contato por whatsapp e estávamos sempre informados do desempenho dos demais integrantes.

O Gustavo fez os trechos 2 e 3 em aproximadamente 52 minutos (incluindo a travessia do Rio Maranduba pelo meio da água, ao invés de pegar o barco da organização) e destruiu meu tempo do ano passado (mesmo que o percurso tenha sido alterado entre os PC's 2 e 3, a distância final foi a mesma).

Enquanto esperava o Gustavo chegar, o Will ficou contando quantos trios passavam pelo PC. Quando o Gustavo entregou o chip a ele a estimativa era que havia somente dois trios na nossa frente. Bastava administrar que uma vaga no pódio seria nossa. Ele não só administrou como ainda conseguiu baixar alguns minutos do seu tempo de 2014! Monstro!

Will focado na chegada (nem desviou o olhar para as moçoilas ao fundo rsrs)
Voando baixo!
Por motivos alheios à nossa vontade, não foi possível presenciar a chegada do Will e tirar foto com os três cruzando a linha ao mesmo tempo. No total estávamos em 5 equipes (2 trios, 2 quartetos, 1 dupla) e a logística acabou ficando embolada, então só chegamos à Praia Dura muito tempo depois de o Will ter terminado a prova.

Claro que isso não impediu nossa farra, já que assim que conseguimos nos reunir outra vez fizemos questão de tomar uma cerveja com tequila e tocar nossas violinhas para celebrar! rs




Além da nossa festa, eu estava bastante feliz pela Cris.
Ano passado ela estava inscrita mas não pôde correr em função do rompimento de um ligamento do tornozelo e esse ano ela montou um trio com a irmã (Karol) e uma amiga (Milena) e ficou responsável pelo trecho 1 (finalizado em louváveis 2h04!).

Cris largando para os 12km do Trecho 1

Trio Feminino Se Ela Corre Eu Corro finalizando o Desafio 28 Praias

Enquanto bebericávamos nossas cervejas e ouvíamos piadas acerca de nossos bigodes, a organização tratou de postar no mural o resultado parcial. Adivinha só: Aloha Run em terceiro lugar nos trios masculinos, com 4h02:17 de prova! 20º melhor tempo no geral (de 287 equipes que concluíram a prova abaixo de 7h).

Mais sucesso que nosso uniforme, só o uniforme da Minnie




Ah, meu amigo, aí a euforia ficou como a zoeira: sem limites!



Felicidade incomparável de ver a execução de um projeto sair ainda melhor que o planejado!

Mas a ficha só caiu mesmo quando fomos chamados ao pódio e a galera começou a entoar "Mexicanos! Mexicanos! Mexicanos!"... surgiu até uma bandeira do México ali no meio! Surreal! rsrs





O melhor de tudo foi a constatação de que toda a zica que me perseguiu durante todo o ano de 2014 foi deixada para trás, uma vez que meus dois objetivos desse primeiro semestre foram atingidos com sucesso (25km sem sofrimento na Trail Adventure Torres de Paine - Chile; e pódio no Desafio 28 Praias de Ubatuba!).

E eu achando que depois dos 30 anos não pegaria mais nenhum pódio!
Por fim, palmas para organização que mais uma vez orquestrou uma prova impecável, muito bem demarcada, com muitos staffs ao longo das trilhas, postos bem abastecidos, rápida divulgação dos resultados e excelente estrutura!

Fica agora a questão: Se em 2014 fomos de havaianos e em 2015 de mexicanos, qual será o uniforme de 2016?

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Relato: Trail Adventure Chile 2015 - Torres del Paine

Após a introdução, é hora de fazer o relato da prova!

Acordamos um pouco mais tarde do que estávamos acostumados (a largada da prova seria às 10h), nos trocamos e fomos tomar café da manhã. Dava para ver que o tempo estava mais frio que os dias anteriores, mas pelo menos não havia sinal de chuva (apesar da previsão do tempo nesse sentido).

Melhor que isso, não havia vento algum! No dia anterior havíamos feito um passeio de barco e pegamos um vento muito, muito forte! Ficamos preocupados, já que essa região é bastante conhecida por seus ventos (que chegam a ultrapassar os 100km/h).

Às 9h45 fomos para o pórtico aguardar a largada daTrail Adventure Chile. Deixamos para largar lá atrás, junto com o Nishi - que iria encarar os 50km (aliás, rolou até uma mini entrevista antes da largada).


Preocupado, eu?!
Precisamente às 10h soou a buzina e lá fomos nós, rumo ao desconhecido. A apreensão era grande... como disse antes, jamais havíamos corrido tanto (25km) e nem com tanto acúmulo de altimetria (>900m D+). Fora isso, nos nossos treinos nem chegamos a correr 15km direto, então a perspectiva de encarar 25km assustava um pouco.




O pessoal largou bem "quente" e nós ficamos lá pra trás...rs
Aos poucos resolvi apertar o passo e fui buscando algumas posições, sempre evitando me desgastar muito, sempre repetindo para mim mesmo que ainda havia muito chão a percorrer.

No número de peito havia um gráfico da altimetria do percurso e era possível ver que até o km 2,5 o trecho seria relativamente plano, sendo que dali em diante teríamos pelo menos uns 7km só subindo. Desse modo, quando meu GPS marcou 2.4km dei uma olhada no horizonte para confirmar a informação e tratei de armar meus trekking poles, que estavam armazenados na pochete.

Foto tirada pela Cris - dá pra me 'ver' ali no alto





Com o auxílio do trekking pole fui "tratorando" no terreno e passando vários corredores. O percurso era demarcado de tantos em tantos metros com pedaços de fitas coloridas (fita amarela para os 25km), sendo que em alguns trechos dava para você 'inventar' seu próprio caminho entre uma fita e outra, já que inexistia uma trilha evidente no chão.

Senti que estava com um ritmo relativamente forte para a altura da prova em que eu estava, mas me sentia bem e decidi não relaxar o ritmo ainda.







Cruzei o quinto quilômetro com 31 minutos e atingi o ponto mais alto do percurso (km 9,5) com 1h05 de prova. Na sequência veio uma descida um tanto quanto violenta (desnível de >300m em 1,5km), onde resolvi segurar a onda para não arregaçar os joelhos e quadríceps antes da metade do percurso.



Finda a descida, cruzamos uma ponte e iniciamos nova subida, essa um pouco mais baixa. Baixo também era meu nível de açúcar nesse momento!
Depois de tanto tempo sem correr longas distâncias acabei me descalibrando e esqueci de reparar nos sinais que meu corpo enviavam para que eu comesse ou diminuísse o ritmo. No km 12, praticamente metade da prova, saí do "modo corrida" e entrei no "modo sobrevivência".
Passei a me arrastar, tropeçando nos meus próprios bastões enquanto caçava nos bolsos da mochila o meu sachê de papinha de maçã.

Uns 15min depois já estava melhor e era hora de passar pelo segundo PC dos 25km, na altura do km 15,5, bem ao lado do pórtico de chegada. Acho que o açúcar tinha acabado de cair na corrente sanguínea, pois me senti super animado e até dei um tiro (cruzei esses 250m num ritmo alucinante-para-mim de 4:10/km!) ao passar pela arena! rsrs

Saindo da arena o terreno seguiu plano por quase um quilômetro e então iniciou-se uma subida de 150m de desnível em 3,5km. Normalmente eu "comeria essa subida com farinha", mas começou a me faltar perna. A última vez que havia atingido essa quilometragem fazia 8 meses!

Novamente tive uma queda de açúcar (e quase queda das pernas também rsrs). Passei a caminhar onde normalmente corro. Começou a bater frio e, quando vi, estava sozinho! (detalhe: no dia seguinte à prova fizemos um passeio de cavalo que passou por esse mesmo trecho. Ao chegar na área do bosque, em que eu corri sozinho, os cavalos começaram a ficar inquietos... o guia disse que provavelmente eles estavam farejando um puma na região!!!o.O)

Saindo de um bosque o percurso dos 50km se separava dos 25km. Por um lado eu estava feliz em saber que desse ponto para a frente seria só descida e plano. Por outro lado eu até que queria mais uma subida para poder usá-la como desculpa para andar! hahahaha



Dobrei os trekking poles, guardei-os de volta na pochete e segui em frente.

Quando passei dos 21km me parabenizei em voz alta por ultrapassar a distância da meia maratona pela primeira vez na vida! E tentei me convencer a correr o tempo todo até cruzar a linha de chegada.

Ao avistar a arena tirei meu buff com a bandeira do Brasil do bolso e apertei o ritmo para cruzar forte a linha de chegada. Confesso que fiquei emocionado! Brega, né? kkkk



Enfim, missão cumprida e cumprida com louvor!
25km (>900m de desnível positivo) em 2h52, média de 6:52/km, sendo o 13º colocado no geral e 11º homem a cruzar a linha de chegada!

Mais feliz que isso, só quando a Cris chegou (3h40) e garantiu o terceiro lugar na categoria.






Tá, também fiquei feliz com a cerveja grátis no pós prova! =D




Ainda mais feliz que isso, só mesmo quando acordei no dia seguinte e vi que estava sem dor alguma! Sucesso puro (principalmente se considerarmos que havia bastante gente dizendo que seria loucura encarar 25km com pouco mais de 3 meses de treinamento e partindo do zero)!