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domingo, 22 de novembro de 2015

Relato: Endurance 25km (Ultramaratona Dizzy Endurance Ano II) #VocêTemCoragem?

Quem nos acompanha há algum tempo (ou mesmo quem clicou no blog pela primeira vez hoje) sabe que o que nos motiva mesmo é o contato com a natureza. Correr na trilha, no lamaçal, nas pedras, atravessando riachos, bosques, pastos, montanhas... ahhh, não há nada melhor!

Todavia, 2015 tem sido um ano de experimentos. No mês passado, por exemplo, experimentamos colocar nossa filhota de 4 patas para correr nas trilhas conosco, experimentamos correr uma prova de asfalto depois de anos afastados, passamos a treinar distâncias um pouco maiores e num ritmo menos intenso, entre outros testes. Afinal, para manter a paixão pelo esporte acesa, é importante variar constantemente o estímulo.

Desse modo, quando ficamos sabendo que a Ultramaratona Dizzy Endurance iria abrir vagas para os 25km em pista de atletismo, bateu certa curiosidade.



A curiosidade residia no fato de que nunca havíamos corrido numa pista de atletismo, e também por saber que esse tipo de prova acaba demandando muito mais resistência mental do que física. Resistência física para correr 25km nós já sabíamos que não seria o problema, mesmo porque já havíamos corrido essa distância antes (embora em cenário e ritmo totalmente diferentes), então o desafio seria mais psicológico.

Ao mesmo tempo, chegamos ao final do ano com o calendário já abarrotado de provas, e seria difícil equilibrar mais uma prova em nossa planilha (e, verdade seja dita, mais difícil ainda seria equilibrar outra prova no orçamento! rs).

Eis que surge um apoiador!



Como já dissemos em relatos anteriores, sempre que precisamos levar a Minnie para tomar banho ou para passar o feriado enquanto viajamos, recorremos aos serviços da Vetmais.
E por algum motivo que eu resolvi não questionar eles resolveram me presentear com uma inscrição para encarar os 25km em pista de atletismo na Ultramaratona Dizzy Endurance Ano II! (Agora vai lá e dá um "jóinha" na página deles para me ajudar a agradecê-los pelo apoio!! rs).

E aí, com a inscrição na mão, a curiosidade virou medo! rsrs
Medo?! Como assim medo, Gabriel? Você já correu em trilhas com rastro de puma e de cobras, em montanhas isoladas e no meio da neblina, no frio e na chuva, em córregos suspeitos e o escambal, e ficou com medo de correr em uma pista de atletismo?! Sim, é isso mesmo.

Conheço esse sentimento! (tirinha retirada daqui)
Convenhamos... uma das coisas que mais me atrai nas corridas em trilhas é o apelo visual e a constante variação de terreno - o que é diametralmente oposto ao desafio de correr 25km em pista de atletismo, não é mesmo??

Não basta o cenário se repetir em loop infinito, os movimentos dos grupos musculares também não se alteram ao longo da corrida. Imagine só dar 22.000 passos idênticos ao longo da prova... sobrecarregando a mesma parte do corpo volta após volta após volta.
Mas o maior receio mesmo era a cabeça. Como se manter motivado para dar 67 voltas numa pista de atletismo sem deixar o ritmo cair ou sem quebrar mentalmente?

Daí o medo.

E como contornar o medo?! Simples, treinando!

Encontrei uma "pista" oval de concreto (argh) de aproximadamente 330m de extensão e fiz alguns treinos lá. Depois do 1º treino (de apenas 5km = 15 intermináveis voltas), resolvi que teria de apelar para uma arma que não utilizava há anos: a música!

No segundo treino (15km = 45 voltas) já cheguei preparado. Botei o fone de ouvido, aumentei o som e tentei entrar em alfa antes de enjoar da "pista". Na parte psicológica, o treino fluiu melhor que na tentativa anterior... mas deu pra perceber que a fadiga muscular chega mais cedo do que num percurso "de ponto a ponto" ou mesmo que numa prova de montanha.

No terceiro e último treino específico resolvi correr 20km em círculos (60 voltas).

Volta 3 de 60
Escutei música, tomei gel, bebi água, fiz contas, pensei na vida, pensei nos prazos do escritório, pensei em comida e quando olhei no relógio, ainda estava no km 16... a fadiga muscular não deu as caras, mas a cabeça entrou em parafuso.

Volta 9 de 60
 Dali pra frente foram mais umas 13 voltas querendo jogar a toalha.


Volta 40 de 60
Volta 58 de 60

E a todo tempo me vinha o bordão da organização da prova na cabeça #EuTenhoCoragem...
Faltando uma semana para a corrida e eu ainda não sabia dizer se eu realmente tinha coragem! rs

Enfim chegou o dia da prova!

A largada dos 25km seria dada apenas ao meio dia, enquanto os monges-zen-budistas-Jedis dos 100km (pois só sendo Jedi e capaz de atingir o Nirvana em meditação para encarar as 266 voltas do percurso) largariam às 8h e os Padawan-shaolins dos 50km largariam às 10h.

Cheguei ao Clube Esperia por volta das 11h15 e entreguei uma mochila de roupas de frio para a Cris, que estava atuando como staff da prova desde antes das 7h da manhã e estava com bastante frio. O tempo estava bastante nublado e com um ventinho constante... perfeito para correr!

Enquanto aguardava o horário da largada, ia conversando com alguns conhecidos e tentando extravasar a ansiedade... não me lembro de ter ficado tão ansioso para uma prova como fiquei dessa vez.

Por volta das 11h45 os atletas dos 25km foram chamados para o briefing da prova, fizemos uma foto juntos e então fomos para a beira da pista aguardar a liberação para a largada.





A largada seria mais ou menos como uma saída dos boxes no automobilismo, uma vez que os corredores dos 50 e 100km já estavam dando voltas na pista há algum tempo e nós entraríamos na pista já cheia.

Aguardando a liberação para a largada


Afunilaram o pórtico para quem já estava na pista e liberaram 3 raias para a largada dos 25km, se não me falha a memória. Soou a buzina e pau na máquina!




Uma vez correndo, o nervosismo cedeu lugar para preocupações mais imediatas:
- Por onde eu vou passar aquele grupo correndo emparelhado?
- To indo rápido demais para a primeira volta? (sim... a resposta pra essa pergunta é sempre sim);
- Caceta, já se foi uma volta? 1:36 para quase 400m dá quantos minutos por km?!;
- Opa!! Tá tocando a música que eu pedi no sistema de som! Acelera aí!;
- PQP! Os dois primeiros colocados dos 25km já deram 3 voltas em cima de mim e ainda não estou nem no terceiro km!
- Nossa tá vindo o maior cheiro de fritura do restaurante do clube... ou então estou alucinando;
- (...);

O legal de correr em um circuito fechado é a chance de incentivar e ser incentivado por outros corredores a cada volta.




Por exemplo, quantas vezes a Marina me viu passando todo torto e falou"Vai lá, Gáb, tá correndo bem" e mesmo eu sabendo que tava todo escangalhado, isso me dava um piquezinho a mais! rs
Ou então eu passar e ver a Karol e o Luís fortes nos 50km e pegar um pouco do ânimo deles para mim... ou ainda passar pela Cris Uehara dançando "show das poderosas" enquanto corria e pensar "se ela consegue correr com essa alegria toda, eu também consigo" e forçar um sorrisinho no meio do sofrimento. rs

E assim a prova foi passando.

(Crédito da foto: Nova Equipe)
A cada 4 quilômetros, mais ou menos, eu parava na tenda de hidratação para engolir meio copo d'água.
Devia ter corrido com uma pochete ou uma garrafinha de mão. Daria pra economizar uns bons segundos por volta.
E apesar de os organizadores terem deixado claro que não seria permitido apoio dentro da pista, vi o mesmo corredor recebendo água da esposa de dentro da pista mais de uma vez (a mulher chegava a entrar na raia de uso restrito aos competidores). Espertinhos existem em todos os lugares né...

A prova realmente exige muita resistência psicológica, mas a resistência física para correr em círculos para o mesmo lado não pode ser desconsiderada.

Os 3 treinos específicos que eu fiz para essa prova foram feitos no sentido anti-horário. Qual não foi minha surpresa ao ver que haviam invertido o sentido da pista pouco antes da nossa largada! rs
Salvo engano, a cada 3 horas invertiam o sentido da pista e calhou de os 25km largarem justamente para o sentido horário.

"A ponte caiu! É mentira!!"

Durante a prova isso não foi problema. Mas agora, 1 dia após o evento, percebo que a perna esquerda está bem mais judiada que a perna direita. Deve ter alguma associação... rs

Bom, o resto da prova pode ser resumido à imagem abaixo:


Meu objetivo era fechar os 25km abaixo de duas horas. Até 1h59:59 iria me alegrar. Mas acabou dando um problema na contagem de voltas (o excesso de informação sobrecarregou os computadores que estavam computando as voltas e deu um atraso no repasse da informação de qual volta cada corredor estava correndo).



Pelo meu Garmin e pelo Strava, fiz 26km em 2h03, então acredito que consegui bater meu objetivo. De qualquer forma, estou bastante contente com minha performance. Principalmente porque do km21 em diante eu perdi um pouco o medo que eu tinha de quebrar e sentei a bota, praticamente igualando o ritmo dos meus 5 primeiros quilômetros (que haviam sido rápidos demais para uma prova longa rs) e possivelmente recuperando e/ou ganhando umas posições - não que isso importe.



O que importa mesmo é que, apesar do medo, concluí mais um desafio com um sorriso no rosto!

Palmas e mais palmas para os corredores dos 50 e 100km. Apesar de querer um dia correr essa distância, não me vejo fazendo isso numa pista de atletismo.


Agora bora recuperar a lataria aqui, pois no próximo sábado vamos encarar a pedreira da K21 Serra do Japi!

Adendo: Gostaria de deixar aqui um agradecimento especial a todos os staffs da prova. Vi em primeira mão o trabalhão que vocês tiveram e sei que a prova não seria a mesma sem o apoio e dedicação de vocês!


Adendo 2: No comecinho de dezembro fui surpreendido com o recebimento dessa lembrancinha aqui: =)





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