Quase não tá frio! Bora meter várias camadas de roupa! rs |
Todo pimpão e combinandinho, no maior EuroStyle |
06 de abril de 2014, 9h40 da manhã, frio de rachar (só de respirar saía vapor pelo nariz! rs), o apito da locomotiva do Trem do Fim do Mundo soou anunciando a largada, o Locutor Maquininha gritou, os helicópteros deram rasante sobre nós e a prova começou!
Comecei lado a lado com a Cris e encaramos os metros iniciais (em subida) de forma bem conservadora e tentando assimilar que finalmente estávamos no Ushuaia e para correr 21km! O frio, as paisagens, os dois helicópteros dando rasantes sobre os corredores e filmando/fotografando, deixavam tudo meio que surreal, dando à prova uma cara de El Cruce de los Andes ou outra prova de grande porte.
Mantivemos um pace bem confortável nesse início e antes de completarmos 2km de prova pegamos uma subida um pouco mais longa e íngreme (embora não fosse estreita ou técnica) e acabamos nos separando, cada um adotando o seu ritmo de prova. Na sequência, o percurso teve uma leve descida e entrou novamente num estradão de terra batida, relativamente plano, rumo ao Parque Nacional Tierra del Fuego.
No caminho para a portaria do Parque encontrei o Ale, da JVM, e seguimos juntos por alguns quilômetros, cada um no seu ritmo e cada um preocupado com a sua lesão (rs), trocando algumas frases rápidas e ofegantes até que os percursos de 21km e 42km se separaram (no briefing disseram que isso ocorreria no km7, mas no meu Garmin mal havia passado dos 5km - meu cansaço dizia que já estávamos no km 18, mais ou menos! rs).
Nessa parte, os meia maratonistas viraram à direita, entrando numa trilha razoavelmente larga e em aclive (chamada de Pampa Alta), enquanto os maratonistas seguiram reto na estrada.
Ali a prova finalmente começou a ficar com cara de prova de montanha: trilhas, lama, charcos, aclives e bosques!
Passei pelo meio mesmo e nem tchuns... |
Aproveitei que o povo estava caminhando na trilha em single track à minha frente e tirei a mochila de hidratação para poder retirar uma das jaquetas, pois, com medo do frio, eu acabei largando com 3 camadas de roupa (segunda pele de compressão e duas jaquetas corta-vento) e estava começando a passar 'calor'.
Saindo do bosque a vegetação passou a ser rasteira e o single track teve algumas dezenas de metros de 'mão dupla' (o que me assustou um pouco no início, pois vendo as pessoas vindo na "contramão" eu comecei a achar que eu tinha errado o caminho! É aquela coisa, né, cachorro picado de cobra tem medo de linguiça! rs).
Este foi o ponto mais bonito de todo o percurso, na minha opinião. Era possível ver montanhas com os picos nevados, cursos d'água, bosques com as folhas alaranjadas, enfim, lindo demais!
Quem liga pra dor quando se tem essa vista?! |
Tá curtindo, Cris? Ôh! |
Essa seria a parte mais gostosa da prova. A descida, embora com algumas raízes, era bem pouco técnica, com terreno macio e muito fácil de se correr.
Desci esse single track num grupinho de uns 4 corredores e em certo momento assumi a liderança do grupo. Nessa hora tive que redobrar a atenção para tentar seguir a trilha (marcada de tantos em tantos metros com um pequeno pedaço de madeira pintado de amarelo) e não me perder (e levar os outros comigo)! Maior responsabilidade! rsrs
Infelizmente, justamente nessa parte do percurso - a parte mais gostosa de toda a prova - eu comecei a sentir os efeitos da falta de preparo físico... Graças a todos os meses que passei em repouso e sem fazer o fortalecimento adequado, estava com as pernas bem fracas... sem os músculos para absorver o impacto das passadas na estrada dura e nas descidas saltando sobre troncos e raízes, comecei a sentir fortes dores nos joelhos e na região onde as bandas iliotibiais esquerda e direita pareciam raspar no osso.
O incômodo era tão grande que, assim que voltamos às estradas planas, não conseguia manter um ritmo constante de corrida. Meu pace caiu para algo em torno de 6:40/km no plano!!! Eu estava me arrastando! Todas as pessoas que eu havia ultrapassado ao longo da trilha começaram a me ultrapassar de volta... mas o pior mesmo eram as descidas. Eu não conseguia nem mesmo trotar ladeira abaixo... eu tinha que parar para caminhar nas descidas mais longas, pois tinha a impressão que meus joelhos iam travar... sensação horrível.
O percurso teve mais uma voltinha estilo out-and-back (ou vai e volta pelo mesmo caminho), num local bem bonito, margeando o Rio Pipo, e ainda cruzei com a Cris durante a volta!
O que é um pontinho verde limão na estrada do fim do mundo? A Cris! |
Minhas pernas começaram a ficar cada vez mais duras e pesadas e eu já estava considerando caminhar no plano (!!!) quando uma voz ao meu lado perguntou sobre a minha câmera. Respondi, perguntei sobre a câmera dele, emendamos um assunto no outro e, quando vi, já estava correndo ao lado dele por quase 3km, e em ritmo constante!
Não fosse o Márcio, do Paraná, eu teria sofrido bem mais para atravessar esses quilômetros finais da prova, com toda a certeza! Valeu pela força, amigo!
Papo vai, papo vem, até esqueci da dor por alguns quilômetros |
Do alto da ladeira já era possível ver a arena e a linha de chegada, bem como era possível escutar o Maquininha parabenizando todos os corredores que concluíam a prova. Faltava pouco!! Era só descer mais uns 400m e correr mais 1km em leve aclive!
Quem disse que eu consegui correr esses 400m em descida?! Tive que parar para andar... só quando voltei à estrada de terra em leve aclive é que consegui encaixar um trotinho novamente (na casa dos 7min/km! rs).
Eu estava com muita dor e, embora estivesse bastante grato por ter conseguido correr e ter aguentado o tranco até ali sem sentir dores na área das minhas lesões (tíbias), eu não estava mais me divertindo...
Cabeça baixa, cara de dor, sem nem olhar para o relógio... Calma, Gabriel, não precisa mais chorar. Agora acabou! |
Cruzei a linha de chegada com bastante sofrimento e cara de choro! rs
Fui para a tenda do pós prova comer e beber alguma coisa e uns 6 minutos depois a Cris apareceu, igualmente com cara de choro! rsrs Se eu soubesse que estávamos tão perto um do outro, teria a aguardado para cruzarmos a linha de chegada juntos.
Claro que eu não fui para lá com expectativa de tempo ou performance. Dadas todas as condições, eu só esperava mesmo concluir a prova sem agravar minhas lesões. Mas quando a gente acaba de correr começam a aparecer na nossa cabeça diversas hipóteses ("se eu tivesse feito isso ou aquilo; se eu tivesse conseguido treinar; se eu tivesse feito um bom fortalecimento muscular; se; se; se;")... enfim, no final, a prova não foi nada técnica, teve muito pouca variação de altimetria (nem 400m de desnível positivo acumulado), teve estradas DEMAIS para uma prova de montanha e o público, de uma forma geral, não era composto por muitos Montanheiros - com "M" maiúsculo mesmo - já que muitas pessoas paravam para andar nas descidas que tinham raízes, ou para passar sobre os troncos e pedras ou mesmo para atravessar as pequenas partes onde havia lama... o que significa que "se bla bla bla bla" eu poderia ter ido muito melhor na prova e obtido uma posição melhor na classificação.
Mas, sinceramente, quem se importa?! O que importa é que fomos até o Fim do Mundo, corremos e sobrevivemos para contar a história!
Sofrendo, mas felizes! |
De toda essa história que eu contei, vocês podem tirar três lições:
I - qualquer pessoa pode correr 21km, mesmo sem treino algum;
II - não é muito divertido correr 21km sem ter treinado para essa distância;
III - Como eu já havia dito no Guia Se Ela Corre Eu Corro de Sobrevivência em Trail Running, o bate-papo durante as provas tem um efeito anestésico muito importante! rs
É isso!
Agora é focar na recuperação (DE NOVO) e, se tudo der certo, começar a treinar para os próximos desafios.
Deu até calor! (e depois dessa foto eu peguei uma gripe da p#rr@! kkkk) |
JVM representando nos 10, 21 e 42km do Mountain Do Fim do Mundo! |
2 comentários:
Parabéns pela superação nos momentos difíceis da prova. Um belíssimo post!
Obrigado pela visita! E parabéns pela prova também!
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