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terça-feira, 21 de agosto de 2018

Relato: La Misión Serra Fina 80km - Um drama de aventura

Ato 1 - Estamos aqui para isso



As cortinas se abrem.
Praça da Matriz, Passa Quatro/MG, 9 horas da manhã.
10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1 e lá vamos nós, quase 300 corredores, escoltados pelas ruas de paralelepípedo da cidade e com destino a essa mesma praça, mas 50 ou 80 quilômetros depois.

Ao me colocar em movimento, toda a tensão se dissipou. Estava confiante no ciclo de treino realizado especificamente para esse dia, que havia se iniciado ainda em dezembro de 2017, e essa era a hora de colher tudo o que havia sido plantado nesses oito meses. Correr e andar por 80km entre trilhas, pastos e estradas, no tempo que fosse necessário - desde que abaixo de 25 horas (tempo limite estipulado pela organização). Eu estava ali para isso.




Como de costume, larguei lá atrás, com tranquilidade. Se normalmente já não tenho pressa em largar, não seria justamente na minha estreia nos 80km que eu iria resolver "meter o louco" e sair em disparada.



Ao longo dos quilômetros iniciais, em estrada de terra, subindo no sentido da Casa de Pedra (nossa velha conhecida do ano anterior), fui aquecendo as pernas e alcançando um amigo aqui, um conhecido ali, e conversando bastante.

Após quase 4 quilômetros de estrada, entramos na área conhecida como Flona (Floresta Nacional) e tivemos uma surpresinha. Esse era, praticamente, o único trecho do percurso em que eu nunca tinha pisado. Já havia visto esse local em vídeos e fotos disponibilizados pela organização, mas ainda assim fui pego de surpresa.

Do km 4 ao 11 seguimos subindo e descendo, sempre de forma curta e grossa, por pastos muito íngremes e bastante expostos ao sol. Como ninguém queria forçar a barra tão cedo na prova, formou-se uma longa fila indiana de corredores que, contudo, seguia em ritmo uniforme.



Passei uns 2 quilômetros desse trecho entre o Victor e a Emily e após o livro de cume da Flona, quando o staff anunciou a chegada de uma descida técnica, eu e o Victor acabamos acelerando um pouco.


A descida era bem íngreme e muito gostosa, mas não quis descer muito forte para não estressar os quadríceps logo cedo. Acontece que descer freando sobrecarregou os quadríceps do mesmo jeito e ao término do primeiro laço dentro da Flona, um pouco antes de passarmos pela portaria, eu já estava sentindo as coxas pesadas e as pernas pouco responsivas - mau sinal.

Segui avançando, na companhia do Victor e do André, e aos poucos fui alcançando alguns amigos que estavam correndo o percurso de 50km.

Tive o prazer de contar com a companhia do amigo Arthur por um pequeno trecho de pasto e por um trecho de estrada de terra, sempre subindo, até os percursos de 50 e 80km se separarem. Demos um abraço e nos despedimos, desejando uma boa prova um ao outro.


Após a bifurcação, Victor e eu nos empolgamos um pouco e começamos a descer desembestadamente e a gritar de alegria por uma floresta de eucaliptos e, depois, por um pasto - onde fomos forçados a parar para andar e atravessar uma boiada que nos olhava com curiosidade.

Chegamos à região da cachoeira do Quilombo com mais ou menos 2h30 de prova (meia hora acima do que imaginei que levaríamos), onde encontramos e cumprimentamos o Lamin, dizendo a ele que estávamos nos divertindo muito e que ele era um sádico por incluir aquela bendita Flona logo no começo da prova.

Dali em diante o percurso já não era inédito para mim, então forcei um pouco (bem pouco mesmo) na subida do Quilombo até a Toca do Lobo para tentar recuperar algum tempo.

(E aqui eu peço licença para abrir parênteses: Desde que me inscrevi na prova fiz questão de não colocar uma meta de tempo final. Queria apenas curtir um dia de pura montanha e a companhia de amigos. Contudo, eu tinha uma meta com relação à Serra Fina: eu gostaria muito de poder pelo menos passar da Pedra da Mina ainda com a luz do dia. Fecha parênteses)

Vista da estrada para a Toca do Lobo,
olhando para o pasto e para a floresta de
eucaliptos que tínhamos acabado de descer
Segui subindo a estrada para a Toca do Lobo, que eu já conhecia de olhos fechados, e fui alcançando mais alguns amigos e conhecidos, até que, já após passar o Refúgio Serra Fina e passar a placa que sinaliza o início da travessia da Serra Fina, alcancei o Marquinhos e o Fabrício. Algo estava muito errado. Não esperava encontrá-los antes da linha de chegada! rs

Agrupei com eles, disse ao Marquinhos (que daqui pra frente será chamado também de Marcão em alguns momentos) que meu pé esquerdo estava me matando. O bom é que eu tinha outro par de tênis me aguardando na Drop Bag do PC Paiolinho, situada dali a 25km. O ruim é que esses 25km seriam na Serra Fina, onde cada quilômetro leva pelo menos 25 minutos!

Puxei a fila e acelerei rumo à Toca do Lobo, pensando em um copo ou dois de Guaranita gelada e pronto para a checagem de material obrigatório.

Ato dois - Era aqui que eu deveria brilhar

Dois copos de Guaranita depois, material checado, uma camada de roupa adicionada (coloquei uma camiseta de manga longa por baixo da camiseta da prova, prevendo vento frio a partir do Quartzito), era hora de iniciar a parte mais bela e técnica do percurso, a razão pela qual escolhi estrear nos 80km justamente nessa prova. Era hora de fazer a meia travessia da Serra Fina, cruzando os cumes do Quartzito, Capim Amarelo, Melano e Pedra da Mina (quarta montanha mais alta do país), saindo pelo Deus Me Livre rumo ao Paiolinho.

Saí do PC antes do Marquinhos e do Fabrício e segui adiante em ritmo leve, esperando que eles me alcançassem - mas nem sinal deles.

Entre o Quartzito e o Capim fiquei preso num bolsão de ar quente, entre duas camadas de nuvens, com o sol a pino acima da cabeça, sem nenhuma brisa. Um grande mal estar se instalou em meu corpo, comecei a transpirar muito, meu estômago "fechou" e, somada à forte dor no pé esquerdo, minha cabeça começou a espiralar para baixo.

Essa era a parte onde eu esperava me divertir mais, era a parte onde eu ia "brilhar", onde eu ia rir à toa e sair nas fotos com cara de bobo. Mas não era isso o que estava acontecendo.

O batimento cardíaco estava bastante alto e a cada 10 ou 15 passos eu procurava uma pedra ou touceira de capim para me sentar e contar até 10 antes de voltar a andar. Comecei a me sentir culpado por ter incentivado o Diego a prosseguir no caminho alguns quilômetros antes, quando o encontrei na estrada com sinais de desidratação (disse a ele para parar no PC, se hidratar bem, descansar e seguir no percurso, pois a parte da Serra Fina seria "tranquila" se ele fosse em ritmo leve! rs Foi mal, Diego! rsrs).

Passei a me forçar a sorrir até eu acreditar que estava me divertindo, mas a cabeça estava bem ruim.












Um pouco antes do ataque final ao Capim Amarelo, enquanto sentava para recuperar o fôlego e baixar os batimentos, fui ultrapassado pela Bete Prado, pelo Erwan e pela Camila e decidi me juntar a eles para ver se, com outra pessoa puxando a fila, eu conseguiria manter um ritmo constante.

O Erwan e a Bete desapareceram na minha frente, mas ainda conseguia acompanhar a Camila, que subia muito mais forte do que eu, mas estava descendo um pouco mais lenta e perdendo o rastro da trilha de vez em quando, então ficávamos "sanfonando" na trilha.

O cara atrasa a Camila e ainda pede pra ela tirar uma foto.
Muito abuso! kkkk
Ter companhia ajudou um pouco, mas eu ainda não conseguia comer direito (me alimentando, basicamente, da guaranita que eu havia colocado num squeeze flexível), então acabei desistindo de acompanhar a Camila e me sentei numa pedra após o Maracanã, para dar um tempo e ver se conseguia comer algo - e para ver também se algum amigo me alcançava.

Alguns minutos depois, minhas preces foram atendidas e o Marcão surgiu no horizonte.

Salvação a caminho!

Ele também estava passando por um momento difícil e parou para se alimentar ali. Depois de um tempo nos colocamos em movimento e começamos a conversar como se estivéssemos num treino dos Mutukas em Campos do Jordão.

Com os bate-papos e "sessões descarrego" conseguimos finalmente virar a chave mental de "PQP, não to me divertindo" para "olha que dia lindo! Olha que doideira a gente aqui no meio da Serra Fina pra fazer 80km!!".




Só contando mentira e falando groselha
Um pouco antes do Rio Claro (onde a organização instalou uma pequena ponte para preservar o leito do rio), fomos alcançados pelo André, parceiro de muitos treinos na Serra Fina, que vinha muito bem - ainda mais se considerarmos que ele ainda estava se recuperando dos 105km da Ultra dos Perdidos do mês anterior!


Enquanto nos abastecíamos no Rio Claro, o André seguiu em frente para o ataque final à Pedra da Mina.



Meia hora depois, Marcão e eu atingimos o cume da quarta montanha mais alta do país, sentamos para comer em frente ao posto de controle (aliás, preciso falar aqui que nunca vi uma prova com tantos postos de controle checando o status dos corredores e passando as informações para a central de dados da organização. Isso passou uma tremenda segurança para nós, corredores), tiramos uma foto, colocamos nossas jaquetas corta-vento e fomos orientados pela staff a já acendermos a lanterna. Saímos da Pedra da Mina exatamente às 18h, ou seja, 9 horas após a largada, e desfrutando dos últimos momentos de luz natural.

Cume da Mina
Encontramos o André novamente, ao iniciarmos a descida, e ele sugeriu que nos juntássemos a partir daquele momento para aliar nossos olhos e lanternas na busca pelo caminho certo.

Em questão de segundos o dia virou noite. A marcação noturna da prova estava excelente, e era possível ver de longe qual era o caminho a ser seguido.

O pé continuava a doer, mas eu estava conseguindo me alimentar bem outra vez e, acompanhado de grandes amigos, voltei a me sentir muito bem e muito feliz na prova.

Apesar da chatice que é aquela descida pelo Deus me Livre, eu não tinha do que me queixar. A noite estava estrelada, a lua brilhava à meia luz, e era muito bom estar vivo!

Abastecemos de água um pouco antes da Fazenda Serra Fina e fomos informados pela staff que ocupávamos as posições de nº31, 32 e 33 naquele momento.

Seguimos felizes e esperançosos rumo ao PC Paiolinho e às nossas queridas drop bags - deixadas com a organização um dia antes. Correr estrada abaixo era um verdadeiro martírio depois de tanto tempo descendo as pedras via Paiolinho, e meu pé realmente incomodava bastante, mas o PC se aproximava e tudo indicava que vinha coisa boa por aí.

Ato 3 - Ativar modo Fênix

Chegamos ao PC Paiolinho (km 45) exatamente no momento em que anunciaram no rádio do staff que o Celinho havia concluído a prova, com 11h56!
Pedimos nossas drop bags e combinamos de fazer uns 15 minutos de parada para alimentação, troca de roupas e etc.

Com medo de perder a noção do tempo, eu havia impresso e colocado na minha drop bag uma lista de coisas que eu deveria fazer antes de sair do PC (carregar o Garmin com o power bank que estava na mala, fazer curativos nos pés em caso de atrito, trocar a roupa molhada, trocar o tênis mas não colocar meias secas ainda, pois em breve atravessaríamos o Rio Verde...).

Fomos muito bem recepcionados pelo Lamin, pelo Koda e pelos demais membros da organização que lá se encontravam e acabamos perdendo a noção do tempo. Provei de tudo que havia no PC (canjiquinha, café, guaranita, doce de leite) e ainda pedi pra provar a comida dos coleguinhas: o Marquinhos tinha colocado 4 esfihas na drop bag (eu tinha pensado em fazer isso há um mês, mas na véspera da prova não achei nenhuma esfiharia); o André tinha levado panetone; Eu ainda tinha metade de um Quarteirão do Mc, mas o lanche não me descia mais.

Poderia ser a fila da sopa da solidariedade numa madrugada fria de
uma cidade grande. Mas era a canjiquinha  no PC Paiolinho mesmo!
Troquei de roupa, colocando uma segunda pele seca e a camiseta laranjinha que me acompanha em todas as provas, tirei as meias, calcei meu par de Asics Fuji Trabuco, que me acompanhou em quase todos os meus treinos longos e separei um par de meias limpas para trocar logo após o rio.

Nesse intervalo fomos alcançados pelo Victor, pelo Jefferson e por mais uns 4 corredores. No total, creio que ficamos mais de 40 minutos parados no PC. Longe de ser tempo perdido, foi tempo investido.

Saímos do PC num grupo de 5 corredores, liderados pelo André, e tomamos a trilha até o Rio Verde, onde a maioria de nós optou por tirar os tênis e meias e cruzar o rio descalço. Apesar de parecer uma nutelice, a opção por não molhar os tênis e meias nesse momento era uma questão estratégica. Já havia muita coisa jogando contra nós (cansaço, pernas pesadas, dores, estômagos ruins, noite longa, etc) para arriscarmos ficar também com bolhas - lembrando que restava ainda quase metade do percurso a completar.

Enquanto o pessoal secava os pés e calçava as meias e os tênis, arrumei-me logo e decidi iniciar minha caminhada para ver se conseguia aquecer os pés e atenuar a dor para estar apto a correr com o grupo quando ele me alcançasse.

A caminhada virou caminhada rápida, que virou trote e quando dei por mim, estava correndo desembestado estrada abaixo. Testei várias pisadas diferentes e com uma delas vi que a dor era menor.

Segui adiante esperando ser alcançado a qualquer momento. Veio o km 50 e eu ainda estava sozinho. Veio o km 55 e eu permanecia sozinho. Cheguei a Itanhandu, passei por um boteco onde me ofereceram pinga e continuei correndo sozinho mesmo quando as descidas viraram subidas, agora com destino ao PC Lamins, o último ponto de corte do percurso.

Eu havia renascido das cinzas e dos cacos e a minha prova estava recomeçando ali. Com 60km de prova, a maior distância que eu já havia corrido na vida, eu me sentia como se tivesse começado a correr a não mais de 10 minutos.

Essa é pra quem assistia desenho nos anos 90.
Vai, Planeta!
Desde a fase de treinos eu estava muito preocupado com esse trecho de estrada, torcendo para estar bem acompanhado para não correr sozinho e deixar a energia cair. Mal sabia eu que correr todo esse trecho sozinho me faria tão bem.

Ato 4 - Ativar modo de economia de energia

Passei pelo posto de controle e último corte da prova - onde achei que encontraria água - e me preparei psicologicamente para encarar a última subida significativa do percurso, o Campo do Muro (no sentido inverso do enfrentado pelos corredores dos 50km), já nosso velho conhecido.

Ali não adianta querer inventar. É só colocar um pé na frente do outro, de forma lenta e constante, e depois de mais de uma hora e meia você chegará ao cume.

Fui racionando minha água e tomando pequenos goles da Guaranita que carregava em meu squeeze, novamente sem vontade de comer. Passei por dois corredores que aparentavam bastante cansaço e tentei convencê-los a seguirem comigo - em vão.

Atingi o cume do Campo do Muro, vi as luzes da cidade acesas clareando a foto sobre a mesa, tirei uma foto e iniciei a lenta e escorregadia descida até a Casa de Pedra.

E a cidade dormindo.
Um pouco antes da Casa de Pedra, abasteci meu squeeze num córrego e encontrei mais uma vez a Bete Prado. Ela decidiu passar direto no PC, mas eu subi até a casa, tomei mais dois copos de guaranita, ouvi da staff que naquela altura já tinha mais de 40 corredores que aguardavam resgate no PC Paiolinho após abandonarem a prova.

Fui informado de que restavam 8km até a linha de chegada. Dirigi mais uma oração à Cris, como vinha fazendo desde o início da prova, e segui adiante.

Ato 5 - Ativar modo M0L3K3 D01D0

Após ser informado de que restavam 8km para o fim da prova, olhei para o relógio, fiz umas contas rápidas e vi que, ao menos em tese, seria possível concluir a prova abaixo de 19h.

Do nada essa meta arbitrária virou meu único foco. Segui trotando ladeira abaixo, mas o pé esquerdo ainda doía bastante e o joelho direito já estava gritando de tanto compensar o esforço para poupar o pé esquerdo. Descer era um martírio, mas era a única saída.

Passei a Bete, passei o Vagnão (que também vinha de recuperação da Ultra dos Perdidos) e a Camila e desci manquitolando por 3 ou 4 quilômetros até ser direcionado para fora da estrada e para dentro de uma fazenda.

A areia da ampulheta sub 19 continuava a escorrer, mas o percurso parou de descer e começou a subir. Por um lado, eu tinha muito mais facilidade para correr nas subidas do que nas descidas. Por outro lado, não fazia sentido o percurso voltar a subir já tão perto do centro. Será que o staff tinha me orientado errado e faltavam mais quilômetros do que eu imaginava até o pórtico de chegada? Será que no final das contas todo o meu esforço nos últimos quilômetros seria em vão?

Ato final 

Passos descompassados ecoam nas ruas de paralelepípedo da cidade adormecida. Três ou quatro jovens, tomando suas saideiras na calçada, esboçam palmas e assovios.
Já não existe dor, já não existe cansaço, já não existe relógio, já não existe sub-qualquer-coisa.
A única coisa que existe é um par de pernas indo na direção da linha de chegada. O que existe é a vontade de concluir. Llegar es vencer.
Com o som de Vangelis de pano de fundo - e com a rouca voz do Togumi, que estava narrando a prova desde o início - e o amigo MP para me recepcionar do outro lado, conquistei meu paraíso. Cruzei a linha de chegada - dezoito horas e cinquenta e cinco minutos após iniciar a jornada mais longa, dura e desafiadora da minha vida, conquistando a 21ª posição. Para ter uma noção de como a prova foi dura, dos quase 130 corredores que largaram para os 80km, quase 60 abandonaram a prova ou foram cortados por atingir o tempo limite.





Epílogo - Não é só correr

Recebi minha medalha, meu boné de finisher, um chocolate quente e fui até o carro para trocar de roupa e buscar minha cadeira e um cobertor para montar acampamento e aguardar a Cris chegar - apesar de ainda não saber se ela permanecia no percurso, se havia sido cortada ou se havia abortado a prova em algum PC.

Encontrei com a Lih e a Si, cada uma esperando o seu companheiro concluir a prova. Encontrei também o Otávio, que estava dormindo na praça aguardando a chegada da Emily. Aos poucos outros corredores foram chegando, amigos de longa data e companheiros de missão.

Busquei minha cerveja de finisher para brindar com o amigo Marcos, cujo apoio foi essencial para concluir esse desafio. O dia amanheceu, a praça foi enchendo de rostos conhecidos, cansados e felizes.



Morto, porém feliz.
Após algum tempo, recebi uma ligação da Cris. Ela estava quase no cume do Campo do Muro e estava preocupada em saber se teria tempo para concluir a prova dentro do tempo limite. Respondi a ela o que esperar do percurso dali para frente e lhe desejei uma descida rápida e suave. Imaginei que ela chegaria com um pouco mais de 24h de prova, mas ela fez milagre naquela descida e apareceu na  rua da matriz com 23h32, cruzando a linha de chegada com um salto, um grito e um choro de alegria (ainda não consigo ver esse vídeo sem me emocionar... e já perdi a conta de quantas vezes o vi!).





Um dos lemas da prova era "Não é só correr". Só fui entender a verdade desse lema quando cheguei à Passa Quatro, na tarde de sexta-feira. Eram tantos amigos queridos, tantos rostos conhecidos, tantos abraços apertados, que nem parecia uma prova. Parecia mais uma festa. E esse clima perdurou por todo o evento, inclusive durante a prova. Essas são lembranças que levarei comigo para sempre.





6 comentários:

Unknown disse...

Parabéns! Foi minha primeira prova de montanha,fui nos 35 km, treinei por 3 meses e senti muita das coisas que você descreveu no seu texto. Ah eu tbm cantei a música do leandro e leonardo, quando vi as luzes da cidade kkkk. Parabéns!!!!

Gabriel C. disse...

Obrigado, Thaís! E parabéns a você também! Escolheu logo uma pedreira para estrear nas provas de montanha. rsrs
Por sorte eu só cantei a música do Leandro e Leonardo depois de ver a selfie que eu tirei. Na hora eu só cantarolava a música que sabia que tocaria na linha de chegada! kkkk

André Lima disse...

Muito fidedigno o relato!!! Deu pra me sentir na prova novamente!!! Você realmente renasceu após o km 50, correu muito bem a segunda metade de prova, estava solto, dava gosto de ver!!! Chegar é vencer, e você chegou e brilhou!!! Meus parabens meu amigo!! Prova fodastica que você eternizou em palavras!!!

Gabriel C. disse...

Dava gosto de ver você cabritando, todo serelepe, pelas pedras enquanto eu e o Marcão nos arrastávamos entre o Melano e a Mina! rs
Mas depois do combo café-canjica-doce-de-leite-esfiha-guaranita-panetone-roupa-seca-tênis-novo, eu realmente fui outra pessoa. rsrs
Só a dor no pé que continua, desde o km 20 até agora, 4 dias depois.
Espero que o relato esteja coerente, pois escrevi de madrugada e com febre! hahaha
Parabéns pela prova e pelo Grand Slam do Ultra Trail Brasileiro! Abraços

FranHaydin.LIFE disse...

Muito bom o relato.. parabéns pela sua conquista nessa nova distancia... nem consigo imaginar essa dimensão de prova, quase 19h... pra mim os 35k em 5h já foram OVER, pois tenho a mesma dificuldade de vc em comer... parabéns de novo pra vc e para a Cris, são MONSTROS das Montanhas... \o/ sou FAN!

Gabriel C. disse...

Valeu, Fran! Fiz muitos treinos longos (inclusive um de quase 19h na Serra Fina) é nunca tive problemas com alimentação. Deve ter sido por causa do calor somado ao maior esforço feito na prova do que no treino. Pancadaria!! Kkkk Abraço!