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quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Relato: Run Brasil Ride Botucatu - 32km

Run Brasil Ride ou Ultra da Cuesta ou ainda Ultra Trail Run 70k Brasil Ride (ou qualquer outra combinação que você quiser fazer com essas palavras, todo mundo vai te entender! rsrs).



Ano passado havíamos escolhido essa prova como "treino longo" para a La Mision 80km desse ano. A ideia era usar os 70km da prova, bem menos técnicos que a La Misión, para ver como o corpo iria se comportar acima dos 50km.

Fizemos a inscrição, treinamos (pero no mucho) e uns 2 meses antes da prova eu acabei quebrando o dedo do pé em um acidente super radical  - bati o dedinho na quina do sofá.

Há males que vem para bem! Acabamos transferindo a inscrição para esse ano, descasamos um pouco no final do ano passado antes de iniciarmos o mega ciclo de treinos que fizemos para a La Misión e que, na minha opinião, foi muito bem sucedido.

Passada a La Misión, além da demorada recuperação do desgaste físico (e de uma pequena lesão que começou a me incomodar no km 20 daquela prova), foi necessário superar o desgaste emocional, ou falando bom português, o bode pós prova.

Foram tantos meses focados naquela prova que, quando ela passou, ficamos nos sentindo "órfãos", sem objetivos, sem vontade... nenhuma prova nos apetecia.

A data da Ultra 70k foi se aproximando cada vez mais e o bode permanecia... além disso, fiquei praticamente 2 meses sem treinar absolutamente nada, e em meados de novembro "longão" para mim era 15km. Ou seja, 70km estava fora de cogitação.


Se for pra sofrer só por sofrer, eu assisto o Especial Roberto Carlos tomando Bavária quente. Em provas eu não gosto de sofrer à toa, só pra completar as figurinhas do álbum "Faça todas as corridas do Brasil em 1 ano" 😂.

Enfim, acabamos mudando as inscrições de 70 para 32km sem o menor remorso (o que ainda foi um exagero, considerando nosso volume de treinos nesse segundo semestre).

Chegamos à Botucatu por volta de 1h da manhã de sexta para sábado - nossos kits já tinham sido retirados pela baiana arretada mais alto astral do planeta, que também nos fez o grande favor de reservar nosso transfer - montamos nossas mochilas e fomos dormir despreocupados.

Apesar de não ser fã da expressão "treino de luxo" (pra mim, dá impressão que você é um belo de um esnobe que só faz provas pica-das-galáxias no exterior e que qualquer outra coisa não merece seu esforço ou atenção rs), devo confessar que para nós essa prova não estava com cara de prova. Zero ansiedade, zero estratégia, zero nervosismo. A gente só queria mesmo era curtir um pouco de mato e ar puro, que têm andado meio em falta na nossa atual rotina.

Pra não dizer que não tínhamos nenhuma preocupação com essa prova, tínhamos apenas uma preocupação: o famoso calor botucatuense (sim, eu joguei no Google pra descobrir como chama quem nasce em Botucatu! rs), tradicionalmente na casa de 82 graus Celsius na sombra, caso você encontre alguma sombra em meio a tantos pastos! rs

Mas o clima anda tão doido que, ao acordarmos e abrirmos a janela do apartamento, fomos surpreendidos com um vento bem gelado (levando a crer que, se as coisas continuarem assim, é possível que nesse natal finalmente neve no Brasil...rs).

Às 8h pegamos o transfer com destino à Pedra do Índio, local da largada dos 32km, e em mais ou menos meia hora estávamos lá, revendo amigos, apreciando a paisagem e tremendo de frio, com os narizes pingando! kkkk






Demos uma volta pela arena e vimos que a primeira trilha do percurso seria bem estreita, o que certamente criaria um funil considerável, então resolvi trotar uns 5 minutinhos com o amigo Carlinhos para estarmos aquecidos para a largada, que deveria ser em ritmo de tiro para tentarmos entrar na trilha antes de se formar a fila da conga.

Entrada da trilha



Dada a largada, acelerei o quanto pude no primeiro km, mas ainda assim peguei bastante trânsito no primeiro trecho de trilha - trecho curto, em descida íngreme, em mata fechada, com muitas pedras e raízes. Não esquentei a cabeça, nem tentei ultrapassagens. Apenas curti o momento.

Saindo da trilha, a descida continuou em pasto, onde foi possível esticar um pouco as passadas e aumentar um pouco o ritmo. Após o pasto, tomamos uma estrada de terra que, em pouco tempo, deu lugar a uma subida bem íngreme em cascalho, por aproximadamente 3km.

Trotava onde dava e andava no resto, passando gente e sendo ultrapassado, mas sem neuras, só aproveitando a ocasião e apreciando o cenário.

Na altura do km 7, logo após o primeiro posto de abastecimento, o percurso voltou a descer, dessa vez por trilha um pouco mais larga, por voçoroca/erosão com bastante pedra solta, por aproximadamente 2km.

Eu, que praticamente não peguei trilhas nos últimos 4 meses, estava me divertindo como criança, me esbaldando e descendo como se não houvesse amanhã. Só que teve amanhã e ele aconteceu naquele mesmo dia... ao final da trilha, as pernas estavam em frangalhos, graças à perda de massa muscular e à falta de prática devido à parada forçada entre agosto e outubro.

O percurso seguiu alternando entre pasto e estrada de terra, sem muita variação de altimetria, e então iniciou-se a segunda subida forte, com mais ou menos 2km de extensão, em meio ao bambuzal. A subida foi íngreme, mas nada de outro mundo e em pouco tempo estávamos no segundo posto de abastecimento, na altura do km 19,5.

(Créditos: Rodrigo Rivelino)
Segundo a organização, dali pra frente se iniciava a parte fácil do percurso. Cheguei ali relativamente bem, com mais ou menos 2h15 de prova, tomei um copo de refrigerante e então peguei a rodovia asfaltada.
Ao longo dos próximos 3km de asfalto, onde em tese seria possível dar uma acelerada e recuperar algum tempo, minhas rodinhas caíram.

O calor estava presente, mas não estava incomodando tanto; a alimentação e a hidratação estavam ok; nenhum desconforto anormal... mas o corpo não estava mais afim de correr. A falta de treino finalmente deu as caras e o ritmo foi lá pra baixo.

O ânimo não veio nem mesmo quando o percurso voltou a descer um pasto. As pernas estavam sem vida e a cabeça não quis intervir. Nesse momento a Daiane (1ª colocada nos 32km), com quem eu vinha "brincando de ioiô"praticamente desde o início da prova, acabou se distanciando de mim de vez e eu passei a caminhar sem a menor vergonha.

Ao iniciar o curto trecho nos trilhos do trem, sabendo que o percurso estava próximo do fim, consegui voltar a trotar um pouco, com um pouco mais de ânimo.

Quase ao final dos trilhos, pouco antes de retomar uma estrada de terra de onde já era possível ver a arena de chegada, fui ultrapassado por mais uma mulher, dessa vez a primeira colocada dos 70km (Lúcia Magalhães), que passou esbanjando velocidade e técnica e me deixou comendo poeira. Deu gosto de ver!

Vi o amigo fotógrafo e fingi que sei correr com boa postura
(Créditos: Rodrigo Rivelino)

Mais algumas centenas de metros e, finalmente, cruzei a linha de chegada, com 3h38 de prova.

Mais ou menos 40 min depois, resolvi descer para a região do riacho, na esperança de fotografar a Cris na travessia... mas não deu nem tempo de chegar à água, pois ela e o Carlinhos já estavam na reta final para a linha de chegada! =)

(Créditos: Rodrigo Rivelino)

(Créditos: Rodrigo Rivelino)



Apesar de eu não ter me divertido muito - principalmente do km 20 pra frente - não tenho o que reclamar da prova em si.

Pós prova cheio de glamour
A arena de pós prova estava muito bem servida, a marcação do percurso foi impecável e o preço da inscrição é extremamente competitivo. Só não é o meu tipo de prova (muito corrível pro meu gosto, talvez...rs), mas ainda assim é uma excelente prova. Se você gosta de estradão, de sol e de trilhas relativamente pouco técnicas e não tem medo de passar no meio das boiadas, vale a pena colocar essa prova no seu calendário.


A gente se tromba nas trilhas! ;-)

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