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quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Feliz ano novo! - Parque Nacional de Itatiaia

"It's not the mountain we conquer but ourselves." - Edmund Hillary

Thousands of tired, nerve-shaken, over-civilized people are beginning to find out that going to the mountains is going home; that wildness is a necessity”  - John Muir

"Mountains are not stadiums where I satisfy my ambition to achieve, they are the cathedrals where I practice my religion." - Anatoli Boukreev

Nada que eu escreva nesse texto explicará tão bem o motivo de termos escolhido passar nosso Réveillon na parte alta do Parque Nacional de Itatiaia  - bem como a nossa relação com o trail running e as montanhas - quanto as citações acima. Então, ao invés de explicar qualquer coisa, vou me limitar a relatar como foi a nossa virada de ano.

Dia 30/12/2014 deixamos nossa filhota no hotelzinho e saímos de São Paulo às 18h, com destino à cidade mineira de Itamonte, onde arrumamos - aos 42' do 2º Tempo - uma pousada muito bacana com fácil acesso para a parte alta do Parque (Estalagem Pintassilgos).

Desconectar das demandas e dos ruídos do mundo - rã-rãn - civilizado; perder o olhar no horizonte e abrir a mente; desfrutar da natureza e curtir o momento: esse era o escopo.

Havia carregado previamente alguns mapas no meu Garmin para usarmos como base para navegação no Parque (juntamente com o que a nossa memória conseguisse resgatar da última vez que lá estivemos, há alguns 23 meses), pois decidimos não contratar guias para fazermos os passeios com maior liberdade.

Aproveitamos para testar nossa capacidade de navegação, bem como mochilas, tênis e afins que compramos para usar em março na Trail Adventure Chile, em Torres del Paine.

No primeiro dia, saímos da Estalagem com tempo quente e - de forma totalmente amadora - esquecemos de tudo que sabíamos de 'Alta Montanha'... simplesmente desconsideramos que a temperatura na cidade (1.100m de altitude) é bem diferente da temperatura do Parque (cuja portaria se situa a 2.450 m de altitude, segundo meu GPS).


Por sorte sempre carrego o anorak!

Apesar de estar parecendo o Inspetor Bugiganga de tanta coisa que eu estava carregando, esqueci de pegar roupa de frio (fleece, manga comprida, etc)... por sorte, o tempo nas montanhas muda rapidamente e, dessa vez, essa mudança foi a nosso favor. Então só passamos um pouquinho de frio nos primeiros 15 minutos.

Nesse dia fomos até a base do Morro do Couto (segundo ponto mais alto do Parque e 9ª montanha mais alta do país). 
Lá chegando, resolvemos estender um pouquinho e iniciamos o trepa-pedras que leva ao cume. Mesmo já tendo atingido o cume anteriormente, acabei empacando num dos lances e o medo, digo, a precaução me fez desistir de continuar... 
A Cris já estava até um lance acima de mim, a poucos metros do cume, mas o medo me dominou e mesmo com ela me incentivando acabei voltando para a base. Acontece... mas tudo bem! Nesse tipo de situação, onde o resgate é difícil e pouco provável, se você não confia nas suas habilidades o melhor é não se arriscar inutilmente.
Como dizem por aí, "Mountains have a way of dealing with overconfidence".







Na sequência, iniciamos nossa descida na direção da portaria e pensávamos em partir de lá para o Abrigo Rebouças mas, mais uma vez, o tempo mudou rapidamente e começou a trovejar. Creia-me, você não quer estar no descampado quando trovões começam a soar ali em cima.


Tempo fechando rapidamente!

Foi o tempo de chegarmos à portaria e a chuva começou. Decidimos então encerrar o primeiro dia de aventura por ali mesmo e voltar para a Estalagem para descansar um pouco a fim de aguentar ficar acordado até a meia noite para a ceia de ano novo! rsrs

A ceia foi uma experiência bem legal. Estávamos apenas eu, a Cris, a Lara e o Paulo (os donos da pousada) e conversamos e comemos bastante.


Se esse trecho fosse após a ceia, eu não teria conseguido passar! rsrs
A Cris, por outro lado, não teve problemas.
No dia seguinte, o primeiro dia do ano, tínhamos um objetivo especial: queríamos ir até a Cachoeira do Aiuruoca tomar um banho hiper gelado para espantar as zicas e lavar a alma, bem como iríamos aproveitar para dar os nossos primeiros trotinhos após um longo e sombrio inverno de lesões.

Só que chegamos ao Parque muito tarde (11h30) e existe uma tabela com horários limite para início da caminhada dependendo de qual será o seu destino. 
O trekking até a cachoeira é considerado pesado e tem aproximadamente 13km de extensão (até um pouco mais nessa época do ano, uma vez que a estrada fica fechada para proteger a reprodução dos sapos Flamenguinho, então deve-se caminhar 2,6km da portaria até o Abrigo para iniciar a trilha). No horário que chegamos já não seria possível fazer o trekking até a cachoeira, então decidimos ir até a base do Maciço das Prateleiras.

Trilha tranquila e praticamente deserta, como no dia anterior.


É para lá que nós vamos!





Chegamos à base das Prateleiras sem incidentes e aproveitamos a tranquilidade para fazer um picnic na companhia dos tico-ticos pidões e para posar para fotos no estilo "Capa da Revista Trail Runner"! hehehe



Posers assumidos brincando de Endurance Challenge Agulhas Negras!
Poser ao quadrado: Krupickizando na brincadeira de Endurance Challenge Agulhas Negras 

Como havíamos prometido para nós mesmos, resolvemos correr algumas centenas de metros para brindar o ano novo e pedir saúde e proteção para o ano que se inicia. Depois de mais de 4 meses absolutamente de molho, qualquer 100m era o suficiente para colocar a língua de fora. Some-se a isso o fato de estarmos a mais de 2.400m de altitude e você poderá imaginar como nossa 'corridinha' foi! rs





Agulhas Negras ao Fundo

Brincando de Endurance Challenge Agulhas Negras

Na direção do Maciço das Prateleiras

Ainda assim, ficamos bastante felizes de finalmente voltar a trotar, mesmo que por poucos minutos.

Na volta para a portaria resolvemos tomar banho na Cachoeira das Flores, próxima ao Abrigo Rebouças. Meu amigo, que água gelada!!!
Demoramos uns 20 minutos para entrar de corpo inteiro na água e passamos mais uns 5 minutos ali dentro até os dentes começarem a bater e a gente sair correndo pra lagartear na pedra! hahaha
Depois de trocados e de volta à trilha, passaram-se alguns 10-15 minutos até que eu voltasse a sentir meus pés! Mas a alma estava lavada e a zica tirada! 





No terceiro e último dia acordamos mais cedo, pegamos as mochilas que deixamos ajeitadas na noite anterior e partimos pro Parque. Chegamos a tempo de fazer a caminhada pra Aiuruoca.

O início da trilha foi um pouco complicado. Nos perdemos algumas vezes - por poucos metros - mas achamos o prumo e seguimos.
Dessa vez, apesar de o estacionamento do Parque estar bem mais cheio, não encontramos ninguém na trilha. O fato de essa trilha ser menos utilizada fez com que levássemos alguns sustos.

Encontramos algumas pegadas de animal de médio/grande porte (onça parda? lobo guará? Cachorro do mato? chupa-cabra??), uma cobra atravessou a trilha à nossa frente e vimos muuuuuiiiiiittttaaassss fezes de algum animal que não identificamos.





Se exposta numa galeria, o nome da imagem seria "Bela Merd@" 

Depois de vermos as pegadas e a cobra começamos a caminhar falando alto, cantando e batendo as mãos, para tentar assustar qualquer outro bicho que estivesse nas redondezas! Loucos? Talvez... Com medo? Opa! rsrs

A trilha seguiu na direção do Pico das Agulhas Negras por algum tempo e depois bifurcou, na direção da Asa de Hermes e Pedra do Altar.






Maciço das Pratelerias ao fundo

Já que ali estávamos, aproveitamos para subir até o cume da Pedra do Altar (que parece a Pedra do Simba/Rei Leão rs). Caminhadinha linda e cansativa, acumulando uns 200m de desnível em ~1,5km.


Pedra do Simba, digo, Pedra do Altar

Uff uff (Agulhas Negras ao Fundo)


Ao atingirmos o cume da 11ª montanha mais alta do Brasil, paramos para um merecido lanche! Ficamos ali comendo, conversando, pensando na vida e então começamos a ouvir vozes próximas... considerando que estávamos totalmente sós durante toda a trilha, tomamos o maior susto! rs
Um casal de alpinistas conquistou o cume poucos minutos depois e também aproveitou para lanchar ali.

Enquanto tirávamos nossas fotos o tempo começou a fechar novamente, com trovões e tudo mais. Não seria seguro ir para a cachoeira com a tempestade que estava armando, então descemos com direção ao Abrigo Rebouças para esperar a chuva passar.


Temporal se aproximando por cima do Morro do Couto

No cume da Pedra do Altar

Chegando ao Abrigo o vento havia mudado de direção e o tempo estava se abrindo outra vez. Como já estávamos relativamente longe da Aiuruoca e era tarde demais para partir naquela direção, tomamos a trilha para as Prateleiras, com destino à Pedra da Maçã e à Pedra da Tartaruga.


Temporal se formando sobre as Prateleiras

Enquanto caminhávamos naquele sentido, vários grupos de pessoas passaram por nós no sentido contrário, voltando já na direção dos carros.
Quinze minutos depois o tempo voltou a fechar e os trovões reapareceram... era hora de voltar!




Começamos a correr, com o objetivo de chegar ao estacionamento antes da chuva. Com todo o nosso condicionamento físico (que condicionamento?!) o máximo que dava para fazer era trotar 300-400m, caminhar ofegante por 500m, trotar mais 200m e assim por diante até chegarmos ao carro.


Cadê o Morro do Couto que estava aqui?

Entramos no carro e a chuva começou! rsrs
Não veio a tempestade que esperávamos, mas mesmo assim foi bom correr para "evitar a fadiga"...rs

O retiro para as montanhas se acabou e o objetivo foi impecavelmente cumprido: mente limpa das impurezas, alma revigorada, crença nas minhas aptidões navegacionais restaurada e saudade das montanhas parcialmente apaziguada. Baterias recarregadas para encarar o cruel mundo real por mais algum tempo.

Feliz Ano Novo!


4 comentários:

rodolfo disse...

Ola , gostei de ler a aventura de vocês.
também há belas fotos , parabéns.

no abrigo rebouças da para deixar carro ? quanto tempo desse abrigo até a prateleiras ?

até mais

Rodolfo

Gabriel C. disse...

Olá, Rodolfo. Obrigado pela visita.
Até hoje, de todas as vezes que fui ao PNI, nunca levei o carro até o Rebouças (geralmente vou na época em que a estrada está fechada para proteção dos sapos flamenguinho, mas mesmo se estiver aberta, a estrada é bem cruel para carros de passeio). Do Posto Marcão (portaria alta) até o Rebouças dá uns 3km.
Do Rebouças até a base da Prateleiras deve dar uns 2 a 2,5km.

Unknown disse...

Muito bacana a paginas as fotos nem se fala.
Fui recentemente a Pedra do altar e em Agosto retorno para ir ao Morro do Couto.

Gabriel C. disse...

Obrigado pelo comentário, Diego.
Se conseguir chegar cedo, dá pra fazer a travessia Couto-Prateleiras! Ainda não consegui fazer, mas parece ser bem legal.