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sábado, 8 de março de 2014

Perfil dos corredores de trail e ultra nos EUA e na Europa

O texto abaixo foi livremente traduzido e adaptado (com a inclusão de algumas percepções pessoais) de dois excelentes textos de humor retirados do conhecido portal I Run Far, com base nas diferenças culturais e comportamentais dos ultra e trail runners europeus e americanos.

Após a leitura desse texto, recomendo a leitura dos textos originais (links abaixo)!

Anton após uma temporada na Europa e um europeu típico


Dicas para um corredor americano que resolva se aventurar no cenário europeu

O que fazer:

Comprima. Comprima tudo que você puder. Use roupa de compressão nos pés, nas panturrilhas, quadríceps, tronco, braços. Não seria surpresa alguma se, de repente, os caras começassem a correr usando "saqueiras" de compressão e as mulheres usando tops de compressão. Os fabricantes, obviamente, vão anunciar que isso te fará correr mais rápido (imagine a sensação de ter suas áreas privadas fortemente comprimidas... é difícil acreditar que isso não te faria correr mais rápido para acabar logo com o sofrimento)
Combine. Sua mochila de hidratação deve combinar com sua camiseta, que deve combinar com suas meias, que deve combinar com seus tênis, que por sua vez deve combinar com a base do seu shorts de compressão, que deve combinar com... bom, você entendeu a ideia.

Comprima e combine!

Use óculos de sol de marcas esportivas nas cores mais chamativas que você conseguir encontrar.

Use um Buff. Na intimidade do seu quarto, treine incessantemente até compreender as dezenas de formas possíveis de se vestir um Buff. Quando o estiver vestindo, tente ao máximo tirar da sua mente o pensamento de que você acabou de sair do set de filmagem de um episódio de E.R. (Plantão Médico).



Leve seus trekking poles. Refira-se a eles como batons. Quando alguém lhe perguntar se você tem batons, responda Bien Sûr ("biãn sír") e aja como se estivesse levemente irritado com a estupidez da questão.



Capriche nos acessórios. Homens: considerem utilizar um pequeno brinco de argola. Mulheres: jóias e bijuterias leves são uma necessidade.

Corte de cabelo. Não vá a um barbeiro qualquer, mas sim a um hair stylist que vai lhe cobrar mais caro que o preço do seu primeiro carro ou de todos os seus tênis e equipamentos de corrida juntos. Para saber se o estilo está ok, tente esse simples teste: seus cabelos não podem se mexer mesmo quando você retirar seu Buff. Outra opção igualmente aceita é raspar a cabeça com máquina zero.

O que não fazer:

Não use bonés. Como dizem por lá, apenas crianças e turistas usam bonés na Europa. Obs.: Viseiras estão liberadas. 

Não seja desajeitado/desorganizado. Saiba exatamente qual bolso de sua mochila de hidratação foi criado para armazenar um Buff, qual foi criado para estocar seus GU's e qual foi criado para o seu pente (sim, isso já foi visto em uma prova!). Jamais confunda os bolsos.

Não use roupas que não sejam justas/agarradas. O único tecido que se permite balançar livremente ao vento é a bandeira do país que está sediando a competição (Suíça/França/Itália).

Não permita a presença de lama nos seus tênis. É possível ver corredores cruzando a linha de chegada de ultramaratonas com tênis que ainda aparentam estar mornos e recém saídos das fábricas. Como eles conseguem essa proeza?

O Seb aqui demonstra bem o conceito: roupas combinando, Buff, viseira, compressão, batons, brinco de argola, tênis limpos...
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Dicas para um corredor europeu que resolva se aventurar nos EUA

O que fazer:

Vista-se de forma aleatória. A regra é se vestir como se você fosse daltônico, geralmente pegando as primeiras peças de roupa que você encontrar na gaveta. Se os anos de meninão-criado-com-vó fizerem com que essa falta de combinação de cores te leve a um derrame, tente o seguinte ritual: jogue todas as suas roupas no chão do quarto, feche os olhos e estique os braços. Vista as primeiras peças que conseguir pegar. Não se preocupe, vai dar tudo certo e você terá tempo suficiente para photoshopar as fotos das suas férias antes de postar no facebook.



Deixe os trekking poles em casa. Os EUA conseguiram criar milhares de usos diferentes para o WD-40, mas ainda não conseguiram entender que os trekking poles podem ser usados além do esqui e da caminhada. Um dia, quem sabe, eles podem chegar lá... nesse meio tempo, se você correr com bastões por lá prepare uma resposta rápida e malandrinha para rebater as perguntas de "Tá nevando onde, parceiro?".

Traga seus eletrônicos (gadgets). Não deixe de usar sua GoPro, seu iPhone, seu mega GPS de pulso que conta calorias, monitora seus batimentos cardíacos, serve como desfibrilador nos aclives mais acentuados e ainda é capaz de tweetar e postar fotos no facebook.

Capriche nos acessórios - leve um cachorro. Pegue emprestado o cachorro de um amigo americano, de preferência um vira latas, e equipe o bichinho com o melhor que você puder (melhor, inclusive, que você mesmo!). Obs.: a regra das cores aleatórias não se aplica ao animalzinho. Trate de vesti-lo todo combinando. 

Destrua seus tênis.  Sabe esse cachorro que você acabou de pegar emprestado? Alimente-o com seus tênis de corrida. Depois, cubra os tênis de lama e deixe-os assar no sol da tarde. Quanto mais cara de que eles acabaram de sobreviver à Travessia da Transamazônica, melhor. Veja bem, tênis são como cicatrizes: eles contam ao mundo histórias sobre quem nós somos, de onde viemos e por onde passamos.

Dispa-se.  Pelo menos se sua intenção for demonstrar que a coisa ficou séria. Nada de camisetas, meias, sistemas altamente tecnológicos de hidratação. Tem quem até mesmo corra totalmente despido, mas tenha em mente que você não será muito bem visto pela sociedade (e pela lei) se resolver fazer isso.

Pelos faciais. Deixe a barba crescer, ou a costeleta, ou o bigode, ou cavanhaque... não importa. Os animais selvagens são peludos, e você também deveria ser. Sem contar que Forrest Gump abriu esse precedente de correr longas distâncias com barbas revoltas e, se bem me lembro, tudo deu certo pra ele em sua corrida épica de 3 anos, 2 meses, 14 dias e 16 horas.

Boné, shorts curto e barbas longas: tudo o que você precisa para correr 15.248 milhas sem parar.

Água. Se você insistir em carregar água, que seja nas mãos. Nada soa mais americano que correr carregando 600ml de água em cada mão.


O que não fazer:
Não lave suas roupas. Ao invés de lavá-las, "cozinhe" as peças no interior do carro que você alugou para se deslocar até o evento. O objetivo aqui é atingir o bouquet mais pútrido possível. Roupas de trail running cheirando a margaridas e lavanda não vão te levar muito longe nos Estados Unidos.


Não espere que o sistema de transporte público funcione. Nos EUA, ao chegar em uma cidade pequena, não espere encontrar um trem a cada 15 minutos. O último trem a deixar a estação o fez em 1955. Ao invés de depender do transporte público, alugue um carro. O lado positivo é que há uma longa tradição nos EUA de se devolver o carro alugado com a aparência (e o cheiro) pior do que se ele tivesse acabado de viajar através da Mongólia, carregando carneiros. Use o banco de trás do veículo como balcão de restaurante fast-food. Aliás, já que a aduana do seu país irá, muito provavelmente, confiscar seus tênis recém destruídos - por risco de contaminação ambiental e disseminação de doenças - você pode muito bem deixá-los apodrecendo no porta-malas do veículo como um presentinho especial para a locadora.

Ao contrário do que você está esperando, lá o pessoal não corre portando armas. Ainda. Tá certo que armas são praticamente um acessório de moda em algumas partes dos EUA, mas até que a Salomon lance alguma arma em fibra de carbono você não precisa se preocupar com portar armas nas trilhas.





Mas e o Trail/Ultra runner brasileiro? Como se veste e se comporta? Achou que a gente ia sentar no próprio rabo e rir dos rabos alheios? rs

Bom, pelo que tenho observado nesse um ano correndo nas trilhas e acompanhando (pela internê) o cenário das ultramaratonas brasileiras, percebo que o brasileiro se encontra no meio termo entre o corredor americano e o europeu, ou seja, em cima do muro, como é nosso costume. Mas vamos por partes.

Cabeça: na cabeça, reina a diversidade tão característica do nosso povo... temos de tudo: bonés, viseiras, Buffs, nada na cabeça... enfim, não há um padrão dominante.

Roupas de compressão: aos poucos estamos observando certa tendência de se render às roupas de compressão nos membros inferiores (bermudas, calças, polainas e meias de compressão), mas os bons e velhos "shorts de jogar bola" continuam bastante presentes!
Apesar de adotarmos as roupas de compressão para os membros inferiores, é possível observar certa resistência à adoção desse tipo de roupa para a porção superior do corpo (arrisco dizer que essa resistência tem mais a ver com os proibitivos preços das roupas do que com algum tipo de preconceito - sem contar, é claro, o costume de usar as camisetas oficiais da prova).

Minimalistas: de vez em quando vemos um ou outro corredor 'minimalista' ao extremo, correndo apenas de shorts (ou mesmo sunga) e tênis por aí. Ainda são exceção, mas eles existem.

Bugigangas: GPS, câmeras de vídeo, mochilas de hidratação e afins só não estão mais presentes no nosso cotidiano porque são caros... não fosse isso (e a questão da falta de segurança), tenho certeza que seriam vistos com muito mais frequência nas provas e nos parques.

Trekking poles: além da questão do preço, penso que não utilizamos muito os trekking poles por aqui por falta de necessidade. Para o corredor mediano/padrão (pangarés como eu, e talvez como você também), não há muita oportunidade de encarar terrenos técnicos o suficiente para que o uso dos bastões faça diferença.

Na prática, americanos e europeus podem correr aqui no Brasil sem que pareçam "um estranho no ninho".

Como aqui a gente dá a cara a tapa, segue o 'modelito' padrão deste que vos fala:

Legendas abaixo.
1 - Boné e óculos escuros: para proteger do sol e de galhos na cara (e porque eu quero);
2 - Luvas e GPS: Luvas porque às vezes é necessário agarrar nas árvores e cercas para conseguir avançar (e porque eu quero); GPS porque muitas vezes o percurso não possui marcação alguma de distância (e porque eu quero);
3 - Bermuda de compressão: para evitar assaduras entre as coxas, para não enroscar nas plantas (e porque eu quero);
4 - Polainas e meias de compressão: para não se cortar no mato seco, para acelerar na recuperação (e porque eu quero);
5 - Gadgets: GoPro na cabeça para depois poder rever as fotos e vídeos gravados durante o percurso e tentar reviver a emoção daquele momento... e depois postar essas fotos e vídeos em 1001 lugares diferentes (e porque eu quero);
6 - Mochila de hidratação: porque mesmo nas provas onde a hidratação é oferecida pela organização, você pode ficar sem água...(e porque eu quero).

Concluindo, dane-se qual é o 'último grito da moda trail'!! O que importa é correr da forma que você mais se sente confortável!!! Sempre vai existir alguém que se veste ou se porta de forma diferente de você e se acha mais importante por causa disso... então para que ligar para a opinião da Glória Kalil das trilhas, não é mesmo? Faça o que te agrada e seja feliz!

Aproveite para deixar nos comentários as suas opiniões, dicas, anedotas e experiências relacionadas ao assunto!

E, se depois de ler tudo isso, você ainda tiver paciência, recomendo a leitura dos textos originais:

http://www.irunfar.com/2014/03/coming-to-america-tips-for-the-european-trail-runner-headed-to-the-new-world.html

http://www.irunfar.com/2014/02/of-buffs-lycra-and-being-well-coiffed-tips-for-trail-running-in-switzerland.html


2 comentários:

Mari Saraiva disse...

Chorando de rir, sem mais!!! Sou mais americana minimalista, carrego agua na mão em treinos de até uns 15km e pra cima só mochila! Quase nada de compressão mas sem aparelhos tecnologicos!

Gabriel C. disse...

Mari, como deu pra ver, meu estilo é "farofa total". Tudo depende do momento... no mesmo dia consigo ir de Inspetor Bugiganga para minimalista de peito nu... rsrs
O importante é a gente se sentir bem!