Vamos ao relato!
Fanático que sou por acompanhar as provas de trail e ultra no Brasil e no exterior, fiquei extremamente empolgado com a notícia de que a Ritmo Certo organizaria a primeira prova de Km Vertical do Brasil - e, quem sabe, mesmo da América Latina!
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Em algum lugar por aqui |
O Km Vertical, por definição da ISF, consiste no tipo de prova em que se acumula 1000m de desnível positivo em, no máximo, 5km de distância (VERTICAL KILOMETER® - Races with 1,000m vertical climb over variable terrain with a substantial incline, not exceeding five kilometres in length.). Resumindo, não se deixe enganar pela distância total percorrida (menos de 5km), pois o percurso é obrigatoriamente casca grossa em razão da inclinação!
Pois bem, no mesmo dia em que as inscrições foram abertas - ainda em abril - fiz questão de garantir minha vaga! A inscrição foi feita do quarto de hotel, em Ushuaia, enquanto aguardava para correr o Mountain Do do Fim do Mundo e, na mesma semana, aproveitei para comprar um par de trekking poles (ou bastões de caminhada) especialmente para correr o Ritmo Vertical. Sim, eu estava muito animado!! rs
A Cris, impressionada com as promessas da organização ("não vai ter algodão doce!" ou "aqui não tem refresco") e sabedora do grau de "sadismo" do Naval (rsrs) resolveu ficar de fora dessa, e foi pra Pinda apenas para me acompanhar. Ela inclusive teve que pedir autorização da FUNAI para fazer esse programa de índio: acordar às 4h da manhã, cair na estrada, dirigir por mais de 2h30 e depois me esperar terminar a prova para então comer e entrar no carro de novo pra voltar pra casa.
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A Minnie pode confirmar que a jornada foi cansativa! |
No entanto, como um ciclo que nunca se encerra, estou comemorando 01 ano de canelite nas duas pernas (sentindo dores/incômodos nas canelas da hora que acordo à hora que vou dormir) e o ortopedista resolveu tentar um novo tratamento, que exige que eu fique 90 dias sem correr... como calculei que o Vertical envolveria pouca corrida, propriamente dita, decidi participar da prova apenas como trilheiro/trekkeiro/caminhante, isto é, sem correr.
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Largando lá atrás, fechando o pelotão na caminhada |
Em dois zig-zags (ou seria em um zig e um zag?), já havia um pequeno grupo que tinha parado de correr e começado a caminhar, e acabei os ultrapassando.
Se o percurso da prova fosse literalmente apenas em subida, como eu pensava que seria, não teria me sentido tentado a correr e desafiar as ordens médicas... mas logo no comecinho teve um trecho de uns 15m ou menos que era relativamente plano, antes de entrarmos na trilha, e acabei me empolgando e trotando uns 5 ou 6 passos...
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(Foto: Pesqueiro Serra Azul) |
Então entramos na mata, levei um escorregão na terra úmida e esquiei de bunda por um metro...rs Dali pra frente resolvi seguir as ordens do 'dotô' e não trotei mais. Essa pequena trilha cortava dois riachos e exigia que andássemos sobre as pedras cheias de limo, num local bem propício para tombos. Por sorte, apesar de escorregar bastante, consegui me manter em pé enquanto um ou outro corredor ia ao chão.
Saindo das pedras podemos dizer que o Ritmo Vertical realmente começou. Estendi meus trekking poles e iniciei a primeira subida, cuja trilha foi aberta pela organização especialmente para a prova. Um verdadeiro paredão! Os bastões ajudaram bastante, e não precisei usar as mãos diretamente para subir a ladeira em quatro apoios.
Em 20 minutos de prova eu já comecei a sentir o cansaço e fome que costumo sentir depois de 1h de atividade física! Como bem disse o Naval (organizador do evento) "a montanha não aceita desafio; respeite-a!".
Então parei para respirar um pouco e tirar umas fotos. Olho pra trás e me deparo com o pesqueiro (largada da prova) lá embaixo!
Vista 'aérea' da área de largada |
Olho para cima e vejo só os 'popôs' dos corredores à minha frente! rs
Saca só o paredão ali atrás! |
Eu ainda não havia percorrido nem 800m de percurso! Vish, pensei, se os próximos 4km forem assim, estou ferrado (e a Cris vai sofrer bastante me esperando!)!!
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Up we go! (Foto: Fatima Gonzaga) |
O primeiro quilômetro foi feito em 30 minutos, então comecei a projetar a conclusão do trajeto em aproximadamente 2h15! Mas foi só esse primeiro quilômetro que era um paredão.
Os demais trechos do percurso, embora sempre em aclive, eram relativamente corríveis (principalmente para quem estava aguado e louco para poder correr... em todo lugar que eu passava eu pensava "aqui dava pra encaixar um trotinho, hein?" rsrs).
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(Foto: Fatima Gonzaga) |
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(Foto: Fatima Gonzaga) |
Quando finalmente saímos da cobertura das árvores, meu desejo foi atendido! Olha essa paisagem!!
Dali pra frente o terreno ficou relativamente plano e senti uma vontade danada de correr... mas não corri!
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Morrendo de vontade de correr nesse single track (mas me segurei!) |
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Só o cume interessa, e eu estou quase lá! rs |
Continuei meu 'passeio no parque' por mais alguns minutos, cruzando com corredores vindo no sentido contrário (após cruzar a linha de chegada era necessário retornar pela trilha até a área de largada), até atingir a área de chegada, onde anotavam nosso número de peito e nos entregavam uma pulseira onde estava anotada a nossa colocação.
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Área de chegada (Foto: Ultra Eventos) |
Fiquei em 29º na categoria masculina, entre os quase 40 loucos que resolveram encarar essa prova.
Fiquei na área da chegada tomando uma coca cola gelada, comendo uns quitutes e conversando com o pessoal presente antes de iniciar meu retorno ao pesqueiro (a descida acabou levando mais tempo que a subida! Ainda mais porque a todo momento era necessário abandonar a trilha para dar passagem para os mais de 20 motociclistas que estavam brincando por lá).
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Confraternizando (Foto: Ultra Eventos) |
Com o amigo Nescau, da Ultra Eventos, que apoiou a Ritmo Certo nesta empreitada |
Pelas informações divulgadas antes da prova, a chegada seria no cume do Pico do Itapeva, o que garantiria um ganho de elevação total de 1.200m no percurso. Na prática a chegada acabou sendo um pouco antes e, no total, não atingimos o acúmulo de elevação pretendido (mesmo se dermos uma margem de erro de 15% para a precisão do GPS, e considerando que meu Garmin não tem altímetro barométrico, a conta ainda não bate).
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Olha só esse paredão no primeiro km!! (Segundo o aplicativo Strava, a inclinação chegou a 49%!! o.O) |
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Para o alto e avante! (Foto: Gilmar Bezerra) |
Mesmo assim, a experiência valeu muito a pena. O lugar era muito bonito, a organização esteve impecável, a trilha estava demarcada de tal forma que era impossível se perder, e o percurso esteve bastante desafiador, mesmo para quem foi lá só pra andar! rs
Além disso, poderei contar pros meus netinhos que estive presente na primeira prova vertical do país, no longínquo ano de 2014! rs
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A "lembrancinha" para quem concluiu o desafio dentro do tempo de corte |
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Também deixei minha assinatura na homenagem feita ao Pesqueiro Serra Azul |
Mais fotos do percurso aqui!