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sábado, 29 de abril de 2017

Relato: Naventura Cânion Guartelá - Tibagi/PR

Eis que em fins de abril, finalmente, iniciamos nosso calendário de provas de 2017!
Antes tarde do que nunca, né?

Já estávamos com saudades de alinhar sob um pórtico, fazer a contagem regressiva e liberar os cachorros ao toque da buzina!

Infelizmente, no entanto, eu vou continuar com essa saudade por mais um tempo. Como vocês viram (e se não viram, segue o link - podem ir lá ver que eu espero!), exatamente uma semana antes da Naventura Cânion Guartelá, durante a Travessia da Serra Fina, enfiei o pé num buraco e sofri um belo de um entorse de tornozelo e, por isso, correr estava fora das cartas para mim.


Mas a Cris se encarregou de representar o Blog e ainda contamos com a participação do grande amigo Diego (do TrailRunningNet) para carregar o nome Se Ela Corre Eu Corro pelas trilhas paranaenses.

Deixarei aqui as minhas impressões como espectador-caminhante do evento e depois a Cris fará o relato dela como corredora.

Vamos lá:

Tibagi fica a aproximadamente 200km de Curitiba, e o Cânion Guartelá (um dos mais extensos do mundo) fica praticamente à beira da estrada, embora quem passe de carro por ali não consiga ver nada.

O kit da prova veio recheado (como há muito tempo eu não via) e o número de peito era daqueles que dá gosto de ver, feito com um gráfico do percurso impresso e informando a localização de cada um dos PC's.



Como caminhante, larguei por último e em menos de 500m de percurso eu já tinha perdido todos os 400 corredores de vista (e já havia inclusive sido abordado pelo "fecha trilha"! rsrs).

A prova contou com as distâncias de 6, 12, 21 e 33km e como os 2 quilômetros iniciais eram em estrada de terra, a chance de eu conseguir acompanhar alguém era zero. Por isso, achei que o dia seria monótono.

Sabe de nada, inocente!

Como descobri em breve (na verdade eu sabia, mas já tinha esquecido! rs), o percurso contava com alguns segmentos no estilo out-and-back - o famoso bate-volta - então a perspectiva de cruzar com os corredores retornando - e encontrar a Cris e o Diego - me deixou animado.

Por volta do quilômetro 3 iniciou-se uma linda descida pelo Cânion. Apesar de estar caminhando de forma conservadora, comecei a alcançar alguns corredores e aproveitei para conversar um pouco, já que o dia prometia ser longo.


O que é um pontinho laranja manquitolando
e se aproximando dos corredores?
Sou EUUUU, abestado! O Tiririca!
Aos poucos os líderes da prova começaram a passar por mim no sentido contrário - achei muito legal poder ver como é a corrida dos ponteiros, qual é a cara deles durante o esforço e também poder mandar frases de incentivos a cada um deles. Senti-me numa daquelas provas americanas que eu tanto gosto de assistir os vídeos pelo Youtube! rsrs

Algum tempo depois entramos num singletrack enlameado, mas apesar disso, foi possível prosseguir caminhando com segurança - já que estava usando tala no pé e bastão de caminhada - enquanto cumprimentava mais e mais corredores vindos do sentido contrário.

Por incrível que pareça, quanto mais técnico o terreno, mais facilidade eu tinha para caminhar.

Na subida do Cânion, após completar um laço (mais para o formato de um pirulito), passei por vários corredores e alguns deles estavam em maus lençóis.

Como a organização disponibiliza diversos pontos de hidratação ao longo do trajeto, acredito que a galera subestimou o percurso. Muitos estavam correndo sem carregar nada, nem sequer uma garrafinha d'água.

Apesar de a largada ter se dado numa temperatura de mais ou menos 13ºC, a essa hora, na saída do Cânion, a exposição solar elevava bastante a temperatura e o calor estava cobrando seu preço dos menos preparados. Ajudei ao menos umas 5 pessoas, oferecendo água e alimentos da minha mochila e segui em frente.

A seguir, o percurso retomou a estrada de terra por mais alguns quilômetros. Na estrada a caminhada parecia não render, mas o visual e a sensação de estar ali faziam com que eu me sentisse bastante feliz.
Na estrada eu me sentia como? Assim. Só a carcaça
do tatu!
Quando eu estava no km 15 a Cris me chamou no rádio para perguntar como eu estava e me disse que ela tinha acabado de passar pelo km 19 - depois a gente foi descobrir que, graças ao formato do percurso - com um novo loop - a gente estava na verdade a menos de 1km um do outro! rs

Quando fui entrar no loop dei de cara com o Diego, que estava saindo da trilha. Conversamos um pouco, informei a ele que estava decidido a 'abandonar a prova' no km 21 (no percurso de 33km você era obrigado a passar pela chegada, na altura do km 21, antes de partir para um novo loop), já que a informação que tínhamos era a de que a partir do km 21 o percurso era majoritariamente composto por estradão de terra.

Despedi-me do Diego e entrei no loop, que era composto por diversas travessias de rio (na verdade a gente atravessava sobre as lajes de pedra, com a lâmina d'água não mais profunda do que 10cm) e muitas pedras. Em resumo, um trecho muito bonito!





Finalizado o loop, passei pelo PC do km 19, tomei meu isotônico, conversei com o "fecha trilha" para avisá-lo que eu não era mais o último colocado a empatar a trilha (rs) e que pararia no km 21.




Segui caminhando até o pórtico, onde cheguei com 3h58 (o que me habilitaria a permanecer no percurso dos 33km, caso eu desejasse, já que o tempo de corte era de 4h nos primeiros 21km) e informei de minha decisão de abandonar a prova.

Decisão tomada sem um pingo de remorso ou de sentimento de derrota. Foi um lindo dia, passei por locais belíssimos e interagi com muitos corredores (inclusive conheci pessoalmente mais um de meus amigos do Instagram, o Gilson!). Ou seja, foi um bom dia! 

A minha parte estava feita, e agora era só esperar pela chegada da Cris e do Diego!

O que dizer sobre a prova? Prova linda, muitíssimo bem marcada (como não via há tempos) e com uma ótima estrutura. E tudo isso por um preço bem competitivo - ainda mais tomando como parâmetro as provas de SP, onde eles já estão quase aceitando seu carro usado como entrada na inscrição! Parabéns pela organização, Kleber!



Ficou a grande vontade de voltar para uma prova da Naventura quando eu estiver apto a correr novamente!

Nosso muito obrigado ao Diego pela calorosa acolhida de sempre!



Se as palavras e as fotos foram fracas para descrever o lugar, talvez o vídeo abaixo ajude:




Relato da Cris:

Já tinha até me esquecido qual era a sensação de uma prova, afinal, a última que participei foi a Lobo Adventure Run em dezembro de 2016 (relato atrasado) e eis que surge uma oportunidade fantástica! Naventura, Etapa Canion Guartelá, muito bem recomendada pelo nosso amigo Diego, de Curitiba e também muito bem organizada! Já estávamos namorando essa prova desde o ano passado e o fato de ser no sábado de feriado prolongado, veio bem a calhar!

Escolhemos a distância de 33km, porém, uma semana depois de passagens compradas e inscrições feitas, Gabriel torceu o tornozelo na Serra Fina, não estando 100% para a prova. Mesmo assim, partimos rumo à Curitiba.

Chegamos já à noite na casa do Diego após longas 9 horas de estrada. O Diego já havia retirado nossos kits no dia anterior, então era só preparar a tralha, jantar e dormir!

Saímos de Curitiba às 5h e após 2h30 de viagem, chegamos ao local da prova.
Estava um pouco frio, mas logo o sol esquentou e na hora da largada já estava agradável.

Optei por largar lá no fundão, junto com o Gabriel, que ia caminhar, e com o Diego!
Os primeiros km do percurso eram em ligeiro declive, então não precisei fazer muita força pra ultrapassar acho que metade da galera, que, de cara, apresentou certo nojinho de pisar numas pocinhas de lama na estrada de terra (oi??) e logo o percurso se dividiu entre 6 e 12km e o longo de 21 e 33km.
Lá pro quilômetro 3, começou a descida nas pedras do cânion. Apesar de ser um trecho só com pedras, me senti confiante pra descer um pouco mais rápido, chegando a ouvir "nossa, a mulher desembestou", no que respondi com humor "tenho que aproveitar a gravidade pra alguma coisa!".



Logo deu início a um single track bem agradável, bastante fechado de vegetação, não muito técnico e um pouco escorregadio. Aproveitei as descidas pra desenvolver um pouquinho mais, porque sabia que após o loop teria que subir tudo de volta. Encontrei com o Diego no meio do loop, recebemos nossos adesivos provando que tínhamos completado aquela parte do percurso, atravessamos um riozinho e logo começou a subida. Cruzamos o pessoal que estava chegando ao loop, mas logo saímos para outro trecho de trilha. Trechinho bem delícia e logo chegamos às pedras do cânion novamente, mas desta vez para subir. A subida foi mais lenta e o sol já estava fritando!







Acabado o trecho do cânion, retornamos à estrada do trecho de ida e entramos onde os percursos curto e longo se dividiam. Seguiu-se um trecho de estrada mais estreita e por volta do quilômetro 15 começou outro single track com vegetação mais aberta e também com bastante laje de pedra e trechos de cruzamento com rios bem rasos. Esse loop teve uns 4km e passei novamente pelo PC de hidratação por volta do km19, quando peguei um isotônico de limão geladíssimo, mas extremamente azedo!! rs




Chamei o Gabriel no rádio pra saber onde ele estava, que respondeu que estava no km15, ou seja, excelente pra quem tava só andando!! Depois descobrimos que o 15 e o 19 era praticamente no mesmo lugar, um subindo e outro descendo! Quase nos encontramos! rs

Dali em diante, mais uns trechos de subida em pedra e então uma estradinha "double track" e mais um trecho de estrada de terra, seguido de um milharal seco (entressafra) e a passagem próximo ao pórtico de chegada, onde seria ponto de corte dos 33km, na altura do km 21, com tempo limite de 4h. Passei por ali com 3h de prova e segui rumo ao último trecho do percurso dos 33km.

Eu já sabia que teria um estradão pela frente e fui trabalhando minha cabeça pra não desanimar nesse trecho. Nesse ponto da prova eu já estava completamente sozinha. Permaneci nessa estrada por uns 5km, quando virei à direita e entrei em outro milharal (eita lugarzinho difícil de correr! O terreno fica 'fofo' por conta da folhagem seca, mas ao mesmo tempo sobra uns galhinhos que enroscam no pé!) que felizmente durou pouco, mas era íngreme!

Saindo do milharal, desci um pasto com a marcação em cones, um PC e em seguida outro single track, pedras, umas descidas, travessia de um rio, o 2º adesivo grudado no número de peito e mais single track um pouco mais barrento, tipo caminho de vaca, estreito, irregular e lamacento. Nesse momento da prova eu me dei conta que estava controlando meu psicológico, estava fazendo filminhos e fotos com a GoPro, correndo o máximo que conseguia nas descidas, só que esqueci de uma coisa muitíssimo importante: a alimentação. Estava me hidratando bem, inclusive parei em alguns PCs pra beber água, mas só me lembrei de comer quando meu estômago deu uma mega roncada. 

Tudo o que eu precisava estava na minha mochila, nos bolsos frontais, sem o menor problema de acesso, mas eu simplesmente esqueci... Pensei na papinha de frutas, que era só abrir e engolir, mas tinha outras coisas por cima e acabei sacando um salamito. Passei uns 10 minutos pra mastigar e engolir, isso no pior trecho da prova, uma subida estilo escalaminhada em pedras e eu tava me sentindo sem energia.

Após finalmente conseguir engolir o salamito, acessei a papinha, a ingestão foi muito fácil, porém ela não conversou muito bem com o salamito e fiquei uns minutos com uma sensação gástrica ruim, logo eu que tenho refluxo!! Diminuí bastante o ritmo, cheguei a fazer um vídeo que, segundo o Gabriel, estava só a derrota, comi provolones desidratados e fui voltando aos poucos ao normal. Nem a linda e enorme cachoeira que tinha nesse trecho de percurso eu enxerguei! Diego depois me perguntou e eu nem sabia onde era! rs

O meu relógio estava marcando a quilometragem um pouco acima da marcação, pois havia algumas placas de marcação ao longo de todo o percurso (thumbs up!) e dava pra ir acompanhando. Por volta do km 28 havia um trecho relativamente plano, porém com terreno todo em laje de pedra e pouquíssima terra. Com o cansaço nas pernas e a energia ainda retornando, intercalei entre trotinho e caminhada, chegando ao último PC para mais um copinho de água.

Logo à frente me dei conta que, de fato, estava terminando. O percurso retornava pra mesma estrada que passei na divisão dos 21 e 33km. Era uma leve subida. Não faltava mais do que 1,5km. Embalei um trotinho bem cansado pra tentar me distanciar um pouquinho da moça que havia me ultrapassado havia poucos km e que eu havia acabado de ultrapassar novamente. Não olhava para trás, mas não mais ouvia os passos dela. Intercalava o trotinho com uns 10 passos de caminhada e voltava a trotar novamente. 





Olhei pra frente e vi um pontinho laranja no topo da subidinha. "Será que é o Gabriel? Ah, é ele sim." Mirei os olhos pro estradão e decidi que não mais ia caminhar até a linha de chegada. Passei ao lado do Gabriel, que foi me acompanhando no trotinho e começou a fazer um vídeo. Me incentivou, dizendo que ele era o Ginger Runner (uma das referências do Gabriel quando o assunto é vídeo de corrida) e eu era a Kim. Eu tava muito cansada, mas continuei o trotinho. Terminada a estrada, tinha uma leve subidinha e enfim o pórtico de chegada. Ao ver o tapetão do pórtico eu sorri, sei que sorri. 





Eu cheguei em 31º lugar geral, 7º lugar geral feminino e 2º lugar na categoria, com 5h23 no cronômetro e 34,5km no meu relógio!



Só tenho elogios a essa prova. Marcação de percurso impecável, fiquei sozinha por um longo tempo e não tinha como errar, placas de sinalização de distância, muitos pontos de hidratação com água geladíssima, produtos Jasmine em um dos PCs, isotônico trincando de gelado, pena que era azedo (o Gabriel adorou! rs), bastante staffs, kit recheado e pós prova caprichado. E além do troféu de categoria, ganhei mais brindes comestíveis! 


2 comentários:

Diego Denega disse...

Parabéns ao caminhante Gabriel e a corredora Cris, foi uma satisfação receber vocês aqui! O relato ficou ótimo, ambos, eu até ia escrever um mas nem vou mais kkk Vou só redirecionar para o blog de vcs. Abração e até breve

Gabriel C. disse...

Hahaha
deixe de preguiça! Se não puder escrever, manda o relato em áudio pra mim que eu transcrevo pra você! kkkk
Abraços!